quinta-feira, 31 de julho de 2008

Casa de primeiro imperador romano é aberta ao público

Assimina Vlahou
De Roma para a BBC Brasil

A casa de Otávio Augusto, uma das figuras mais importantes da Antigüidade, foi aberta à visitação pública pela primeira vez depois de três décadas de meticulosos trabalhos de restauração - de, por exemplo, raros ciclos de afrescos - e reforço de estruturas.

A residência faz parte de um complexo mais amplo, de 12 mil metros quadrados, descoberto por arqueólogos durante escavações no final dos anos 1970. Depois da fase de identificação, eles iniciaram as obras que só agora foram parcialmente concluídas.

Apenas quatro salas estarão disponíveis para a visita, por enquanto. Uma delas é o "gabinete" de Augusto, uma espécie de escritório particular do homem que comandou Roma depois de Julio César, entre 27 a.C. e 14 d.C . O nome dele ficou ligado a um "período de ouro" da civilização romana.

"A casa é de grande interesse histórico, arqueológico e artístico. Os afrescos, especialmente do gabinete, são altamente refinados e riquíssimos, com cores que vão do vermelho pompeiano ao amarelo ocre, passando por tons de rosa, azul e uma infinidade de violeta", comentou a crítica de arte e historiadora brasileira Elisa Byington, em entrevista à BBC Brasil.

Ao examinar a área, os arqueólogos encontraram paredes inteiras pintadas com afrescos, mas também fragmentos pequenos nas proximidades, que os restauradores conseguiram recompor, num trabalho meticuloso que o ministro da cultura Francesco Rutelli definiu como "o quebra-cabeças mais fascinante da época contemporânea".

Obras de restauração da Casa Augusto levaram 20 anos

Cuidado


As autoridades italianas gastaram até agora cerca de US$ 3 milhões na recuperação da área. Para melhor conservar os delicados afrescos, há controle de temperatura e umidade dos ambientes e as visitas serão limitadas. Podem entrar nos cômodos apenas cinco pessoas de cada vez.

A residência de Augusto foi construída no ano 36 a.C., antes de ele se tornar o primeiro imperador romano, no ponto mais sagrado do monte Palatino, próximo ao Coliseu. Conta a tradição que foi ali que Rômulo e Remo fundaram a cidade de Roma.

Controle de temperatura e umidade preserva afrescos da casa

A casa era usada como residência privada e como palácio imperial para as funções civis, políticas e religiosas. Augusto, além de chefe supremo dos exércitos romanos, era também o Pontífice Máximo.

Otávio Augusto governou com o consenso do Senado e aprovação popular, e ficou conhecido pelo período de paz que impôs – a chamada pax augustea –, ao qual foi dedicado um monumento na cidade.

Ele diminuiu o Exército de 50 para 28 legiões e, depois de anos de lutas e guerras, trouxe bem estar e serenidade aos romanos.

Augusto teria dito: 'encontrei uma Roma de tijolos e deixei mármore'

No período em que comandou Roma, Augusto transformou o aspecto da capital, com obras e construção de templos, monumentos e teatros, usando materiais ricos como o mármore. Segundo os historiadores, pouco antes de morrer ele teria dito que quando chegou ao poder "encontrou uma cidade de tijolos e deixou uma cidade de mármores".

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Forum Imperial - Roma

Roma

I Fori Imperiali:
Mostra - "Roma - L' invenzione dei Fori Imperiali - Demolizioni e scavi: 1924-1940."

(23.07. - 23.11.2008).

Exhibition Photographs (with supplimentry visual documentation).

http://flickr.com/photos/imperial_fora_of_rome/sets/72157606320119383/detail/

http://roma.repubblica.it/multimedia/home/2574445

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Crise, Crítica e Discernimento

Por Paulo Martins

É muito comum, nos dias de hoje, lendo jornais, revistas e livros, ou ainda, assistindo aos noticiários da televisão, observar usos contínuos e sistemáticos de certas palavras, sem, no entanto, nos ater ao seu significado exato e verificar o sentido que lhes está sendo impresso, ou ainda, sem ter a curiosidade de pesquisar suas origens, seu étimo. Talvez imaginemos que apenas decodificar o sentido das palavras a partir do nosso próprio uso seja suficiente para detectar-lhes o significado exato que no momento da enunciação está sendo empregado. É possível que isso realmente seja válido e relevante, mas é certo também que poderá não ser completa a compreensão de certos textos em determinados momentos.

Recentemente, pudemos assistir no Brasil ao caótico “apagão aéreo”. Tal expressão, que para o falante do português de quaisquer dos países lusófonos, à exceção dos brasileiros, pode soar incongruente, sem sentido, sem lógica, pois que tem seu significado associado ao uso cotidiano da língua. Assim, por conta da falta de energia elétrica, que assolou nosso país há alguns anos, por contigüidade, foi aproximado da falta de controle do tráfego aéreo. Assim “o apagão” que fora o de luz efetiva, foi ligado à outra carência que era a de organização do sistema de controle de vôo e dos aeroportos brasileiros. É ... A língua pode funcionar assim. Uma simples associação de significados de caráter meramente circunstancial e localizado que resume em uma só palavra um conceito, uma idéia, por vezes, complexa.

Por outro lado, se ao invés de “apagão”, usássemos crise, indubitavelmente, teríamos um sentido mais claro e, seguramente, denotativo. Sem se dizer no efeito de seu uso. Esse, é certo, é de matiz pejorativo. Afinal, o termo “crise” diacronicamente e, portanto, desde, pelo menos, o século XIX no português está ligado ao jargão médico, especificamente, determinando o ápice de uma doença e, segundo determina a lógica humana, nenhuma doença é boa. Antes disso, em outros países, como França (crise), Inglaterra (crisis), Alemanha (krise), Itália (crisi) e Espanha (crisis), nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, respectivamente, o termo surge, estabelecido pelos falantes como algo relativo ao campo da Economia. Não é de outra forma - isto é negativa - que a Língua Portuguesa, hoje, por sua vez, oferece um espectro muito largo de utilização do termo, a saber: três acepções utilizadas pela Medicina; quatro pela Psicanálise; duas pela Economia; cinco pela Sociologia.

O fato de a palavra crise aparecer nas línguas apontadas evidencia ao leitor cuidadoso um caminho etimológico fundamental para verificação de seus significados. O que haveria de comum entre elas? A resposta é imediata, uma vez que o inglês e o alemão são línguas que pertencem à família das línguas anglo-germânicas e o espanhol, o francês e o italiano são línguas derivadas do Romance (o latim vulgar), ou seja, são neolatinas. Entretanto essa separação em dois grupos é muito posterior ao uso da palavra, pois uma língua suposta, o proto indo-europeu uniria todas elas em um só grupo e por dedução já registraria a raiz “kr-”. Como não se tem registro dessa língua suposta, tomemos suas origens mais remotas hoje conhecidas: o grego antigo e o latim.

A palavra crise origina-se do verbo grego “kríno” que significa de acordo com o Dictionnaire Étymologique De La Langue Grecque de Pierre Chantraine: separar, apartar, escolher, cortar, decidir, fazer passar por um julgamento. Curiosamente, verificando esses significados, encontramos no latim um verbo cognato: “cerno”, cujos significados historicamente propostos no respectivo verbete do Oxford Latin Dictionary são: peneirar, separar, decidir, determinar, discernir com os olhos, discernir com o intelecto, perceber claramente, procurar, examinar. A crise, portanto, seria o resultado dessas atividades: a separação, a decisão, o julgamento, a escolha e a eleição. É digno de observação que em nenhuma dessas acepções o sentido do termo é exclusivamente negativo. Antes, assume certa neutralidade da atividade, seja ela advinda do ato mental, seja do ato mecânico. Assim, a “crise aérea”, ou simplesmente, o dito “apagão” no Brasil, sob a ótica da etimologia do termo, deveria ser vista como aferição de um processo e como tal servir para separar o joio do trigo, longe, portanto da constatação apenas de um caos que se instaurou no país.

Entretanto, para que esta última atividade fosse levada a bom termo, seria necessária uma disciplina reguladora da atividade da crise: a crítica. Em sua origem, que é a mesma de crise, era um adjetivo, isto é, “aquele que é capaz de discernir e julgar” (cf. A Greek-English Lexicon de Liddell e Scott). Porém, observada a diacronia, passou a ser o próprio “poder do discernimento” e, por extensão, a arte de julgar, “kritikê tékhné” (arte/técnica da crítica). E nas línguas modernas e, talvez, por sua influência, o uso na técnica de avaliar e julgar qualquer coisa ligou-se à obra de arte no francês do século XVI “critique”, no inglês do XVI “critic” e no inglês do XVII “criticism” e no italiano, no espanhol e no português do século XVIII “crítica”.

No Português contemporâneo, o Dicionário Houaiss propõe que esse substantivo feminino em sua primeira acepção desenvolve o conceito histórico relacionado à arte, contudo vai além como, por exemplo: “exame racional, indiferente a preconceitos, convenções ou dogmas, tendo em vista algum juízo de valor”, ou por metonímia: “escrito ou gravação resultante dessa atividade teórica, ideológica e/ou estética”; ou “exame de um princípio ou idéia, fato ou percepção, com a finalidade de produzir uma apreciação lógica, epistemológica, estética ou moral sobre o objeto da investigação”, e por último, numa rubrica filosófica: “questionamento racional de todas as convicções, crenças e dogmas, mesmo se legitimadas pela tradição ou impostas por autoridades políticas ou religiosas”.

Entre o agir (kríno) e a atividade (kritikê), porém, deve haver a capacidade mental que os decodifica como necessidade. Assim não basta observar a crise e ser hábil no avaliá-la. Uma capacidade intelectual se faz necessária, um imperativo: o discernimento. Ele, como se nota, é uma palavra cognata do verbo latino cerno (e dessa maneira, associada ao étimo de “kríno” e “cerno”) que sofreu no próprio latim prefixação do “dis-”, cujo significado, como em português, pode ser a disjunção, a separação, assim o processo de formação da palavra enfatiza que o julgamento pressupõe a separação do que é mal daquilo que é bom. Quanto ao significado em português, distante, no entanto, da carga pejorativa e/ou negativa de crise, o Dicionário Houaiss assim esclarece: “ato ou efeito de discernir. 1. Capacidade de compreender situações, de separar o certo do errado. 2. Capacidade de avaliar as coisas com bom senso e clareza; juízo, tino. 3. Conhecimento, entendimento.” Assim, nosso “apagão” aéreo, muito além de uma simples carência, deveria ser considerado crise para que pudéssemos agir criticamente, balizados pelo discernimento. Dessa forma, seguramente, teríamos muito mais do que a simples constatação de um problema, teríamos, sim, a clareza e a precisão de um evento que deve ser tratado com discernimento e não alheio às críticas que dele podem advir.

sábado, 19 de julho de 2008

Cursos de Graduação - FFLCH/USP - 2o. Semestre de 2008

No segundo semestre de 2008, serei responsável por duas disciplinas de graduação em Letras, na FFLCH da USP:



FLC0257 - Literatura Latina: Elegia - Matutino (10:00-12:00) e Noturno (19:30-23:00)



FLC1256 - Literatura Latina: Historiografia - Matutino (8:00-10:00) e Noturno (8:00-10:00)



As aulas serão às terças-feiras. Em breve publicarei as ementas e respectivos conteúdos que diferem um pouco daqueles que estão publicados no Sistema Júpiter da USP (jupiterweb).

Metapintura e Intertextualidade

Hoje no acervo do MET de Nova Iorque, esta cratera, conhecida como cratera do grupo de Boston 00.348, parece-me bem interessante, por três motivos:

1) Representa aristotelicamente homens como nós, isto é, apesar de o deus Héracles, em escultura, estar sendo retocado e estar figurado no vaso, a atividade comum do artífice é central na pintura vascular.

2) Parece-me também que tal pintura é um caso típico de autoreferência, constituindo, pois, uma linguagem cuja função é metalingüística.

3) Apresenta um dialogismo com outra arte, a escultura. Porém não uma qualquer e, sim, uma específica, ou pelo menos, um escultor Policleto ou Policleito, como pode ser observado, principalmente pela posição das pernas, do torso e braços que imprimem, no final do século 5 e início do 4, mais movimento as formas e será canônica em Praxíteles, Lisipo e Míron:



Column-krater with artist painting a marble statue of Herakles, ca. 350–320 B.C.; Red-figure Greek, South Italian, Apulian. Attributed to the Group of Boston 00.348. Terracotta; H. 20 1/4 in. (51.51 cm). Rogers Fund, 1950 (50.11.4) - MET, Nova Iorque



Doríforo de Policleto - Museus do Vaticano


Apoxyomene de Lisipo - Museus do Vaticano



Hermes com o jovem dionísio de Praxíteles

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nova Tradução de Platão - André Malta


O professor de Língua e Literatura Grega da Universidade de São Paulo André Malta acaba de lançar suas traduções para três diálogos de Platão: Apologia de Sócrates, Êutifron (ou Sobre a Piedade) e Críton (ou Sobre o Dever).

A iniciativa é de grande importância aos Estudos Clássicos no Brasil, uma vez que são poucas as traduções confíaveis que existem no mercado editorial brasileiro, ainda mais se observarmos a importância do filósofo ateniense para o mundo ocidental.

Vale dizer que a certeza de estarmos diante de uma tradução direta do grego antigo clássico para o vernáculo, a priori, já nos dá uma mínima idéia da relevância do trabalho de André Malta com o qual convivo academicamente há anos.


Pintura de Rafael Sanzio - A Escola de Atenas - Ao centro Platão e Aristóteles


Segue abaixo o release da editora:


Apologia de Sócrates, de Platão


Por L&PM Editores


O julgamento de Sócrates foi um dos fatos históricos mais importantes da Grécia Antiga. No entanto, foi apenas com o tratamento dado ao episódio por Platão (responsável por lhe atribuir uma poderosa dimensão-filosófica-literária) que ele extrapolou seu tempo e se perpetuou como inesgotável fonte inspiradora. A Coleção L&PM Pocket lança Apologia de Sócrates, precedido de Sobre a piedade (Êutifron) e seguido de Sobre o dever (Críton), três textos que tratam do processo contra Sócrates e de sua morte.


Em 399 a.C., Atenas estava se recuperando da derrota para Esparta na Guerra do Peloponeso e tentando consolidar o frágil regime democrático. O posicionamento crítico de Sócrates pareceu uma afronta aos costumes da cidade e ele foi incriminado, julgado e condenado à morte por envenenamento sob as acusações de não cultuar os deuses da cidade, tentar introduzir novas divindades e corromper a juventude com suas idéias. Essas acusações não intimidaram o pensador, que decidiu conduzir a própria defesa, dando origem aos textos aqui reunidos. Em Sobre a piedade (Êutifron), primeiro diálogo do livro (antes de seu julgamento), Sócrates conversa com o adivinho que dá nome à obra, Êutifron, sobre a definição mais adequada para a palavra piedade (ou religiosidade). Em Apologia, Sócrates apresenta seu discurso proferido no tribunal para se defender das acusações de que fora alvo. Sobre o dever (Críton), de certa maneira, dá continuidade à discussão jurídica de Apologia. A conversa entre ele e um velho companheiro acontece na prisão, enquanto Sócrates aguarda o momento de sua execução.



Apologia a Sócrates, Sobre a piedade e Sobre o dever são textos que partem da discussão filosófica, mas assumem ramificações religiosas, políticas e éticas, mostrando por que Sócrates passou para a História como fundador da tradição filosófica ocidental. São obras que por si só são suficientes para fornecer um excelente panorama da arte e da filosofia platônica.


Apologia de Sócrates
Precedido de Sobre a Piedade (Êutifron)
e seguido de Sobre o dever (Críton)
de Platão
Volume 701 da Coleção L&PM POCKET – 144 páginas – R$ 10
ISBN 978-85-254-1767-1 Código de barras: 9788525417671

http://www.lpm-editores.com.br/

Álvares de Azevedo por Cilaine Alves


ALVES, CILAINE, - O Belo e o Disforme: Álvares de Azevedo e a Ironia Romântica. São Paulo: EDUSP & FAPESP. 1998. p.189.

Paulo Martins

O livro O Belo e o Disforme de Cilaine Alves sobre a poesia de Álvares de Azevedo, que acaba de ser lançado pela EDUSP com apoio editorial da FAPESP, é precioso. Recupera e analisa a recepção crítica da obra, processa e delimita o código e, por fim, opera e conceitua o estilo. O que faz, portanto, é indicar e analisar um sistema poético e retórico que, simultaneamente, observa certos equívocos da recepção, circunscreve o autor em questão num código estético-poético e refaz o percurso estilístico que sintetiza o registro em forma poética. Ou seja, Cilaine propõe, inusitadamente e na contramão da convencional crítica, a leitura da obra de Azevedo e não a leitura de Azevedo.

A recepção crítica do autor de Macário está dividida no livro sob dois prismas. O primeiro chamado de crítica “psicobiográfica” e o segundo de “psicoestilistica”. Assim percorre a produção da recepção de Azevedo, observando, Joaquim Norberto, José Veríssimo, Silvio Romero, Ronald de Carvalho, Afrânio Peixoto, Mário de Andrade e Antonio Candido. Este processo, portanto, é o ponto de partida do livro.

Manoel Antônio Álvares de Azevedo, nas palavras de Antonio Candido na Formação da Literatura Brasileira, é, dentre os poetas românticos, aquele “que não podemos apreciar moderadamente: ou nos apegamos à sua obra, passando por sobre defeitos e limitações que a deformam, ou a rejeitamos com veemência, rejeitando a magia que dela emana. Talvez por ter sido um caso de notável possibilidade artística sem a correspondente oportunidade ou capacidade de realização, temos de nos identificar ao seu espírito para aceitar o que escreveu”.

A afirmativa de Candido, de certa forma, pode ser considerada a síntese de parte da crítica literária brasileira que leu os poetas românticos e, especificamente, Álvares de Azevedo sob o recorte da uma psicoestilística. Transfere essa crítica aspectos psicológicos do autor, ou melhor, do sujeito da enunciação poética para caracterizar a produção. Assim observada, esta poesia se impregna de conceitos psicológicos que poderiam ou não ser atribuídos ao autor.

Depositário de certo matiz psicobiográfico, Mário de Andrade em “Amor e Medo”, por seu turno, compõe a partir de suas leituras de Álvares de Azevedo uma visão do poeta. O cerne da discussão poética migra do “fazer” para o “ser”, ou seja, desconsidera o protocolo e cânone poético para considerar o poeta em si como objeto de estudo, deslocando a importância do estudo literário, do texto para o construtor do texto. Assim, “as teorias que afirmam ou tentam comprovar que o poeta desconhecia a prática do ato sexual soam deslocadas. As idéias que circulam em torno do ‘medo de amar’, ‘complexo de Édipo’ ou qualquer coisa do gênero seriam interessantes e oportunas em outras ocasiões, mas não como interpretação dos conteúdos das obras.”

Logo, temos ao percorrer nossos mestres, a impressão que a leitura dos textos românticos antes de tudo deve observar os aspectos pessoais de afinidade e de empatia, não devendo ser norteada por uma “paidéia” que está na base do estudo da crítica que se preocupa com produção do texto. Sob aquele aspescto, ecoam algumas proposições como: Álvares de Azevedo foi “um homem de imaginação doentia”. Destarte, ele foi (in)devidamente “etiquetado” de devasso, depravado, incestuoso, angelical, homossexual, casto, ingênuo, etc.

Em rodapé do prefácio ao livro, João Hansen propõe, observando Mário de Andrade, falando de Maneco de Azevedo: “Fazer psicanálise de supostos sintomas de supostas neuroses de personagens é só verossímil, porque metaforização de discursos psicanalíticos tidos como ‘verdadeiros’ quando aplicados a sujeitos históricos empíricos. Seres de papel são puramente funcionais, não são passíveis de juízos de existência, desconhecem o real desejo etc.”

Poderíamos atribuir tal imprecisão técnica da crítica brasileira à suposição de que, por ser um momento de ruptura inquestionável, o romantismo, ao contrário de momentos anteriores ao século XIX, carece de preceptivas que instaurem procedimento, e, nesse sentido, o que se pode dizer acerca dessa produção, está limitado aos sentimentos pessoais, ao prazer do gosto e ao gênio poético, elementos subjetivos que desconsideram a prática poética no seu sentido original, primevo. Afinal, o poeîn, mesmo para os românticos, não havia morrido, como, seguramente, para nós, pós-românticos, ou melhor, pós-tudo não morreu.

Contudo, o romântico efetiva-se como poética pela substituição de uma retórica clássica (greco-latina), que prevê uma elocução subjetivada, onde há espaço programático para o discurso personalizado, genericamente tomado, pela prática que entende a forma como “reflexão da própria essência”, “auto-reflexão infinita”, logo uma retórica que é essencialmente subjetivação da elocução. Este projeto passa, por conseguinte, pela invisibilidade do artifício.

Dessa forma, lendo-se, Álvares, Sousândrade, Castro Alves e tantos outros, observa-se a pseudo-ausência de procedimento, o que para eles era programático e resultado efetivo de efeito pretendido, fundado em regras estéticas que propunham ora a imediatez da expressão subjetivada do patético, segundo já advertira Schiller, ora a poesia como auto-reflexão infinita, pedra de toque de Schlegel.

A crítica entendeu, portanto, este deslocamento retórico como rejeição de projeto retórico, instituindo a negatividade do procedimento como mera ausência de protocolo regularizador da ordem poética, e, conseqüentemente, atribui à obra de Álvares de Azevedo inépcia em certos momentos. Em suma, entendeu, equivocadamente, certa crítica “romântica” os próprios românticos.

Observe-se ainda Candido ao falar da “poesia” de Álvares: “mistura a ternura casimiriana e nítidos traços de perversidade; desejo de afirmar e submisso temor de menino amedrontado; rebeldia de sentidos, que leva duma parte à extrema idealização da mulher e, de outra, à lubricidade que a degrada”. Dessa forma, a crítica literária até hoje muito nos apontou muito sobre suas “psicopatologias” e pouco nos ajudou na leitura, tendo em vista os aspectos estéticos, que devem, mormente para a produção do século do mal, ser analisados com muito vagar.

Os desacertos de leitura da obra de Álvares de Azevedo, segundo a pesquisadora, tendo em vista o código poético do autor, se verificam pela inobservância de quatro características basilares da “paidéia” romântica que circunscrevem a poética da sublimidade, típica do romantismo: um sistema dual, a ascese anímica, a infinitude do texto e o matiz byroniano.

Observa a autora que a poesia de Álvares de Azevedo subdivide-se em dois momentos. Um primeiro que visa a “dissolver as contradições da cultura procurando unificar a alma num reino transcendental, cantando a fé e a esperança numa civilização ideal”. E um segundo que efetiva um rompimento com o mundo de cultura a partir de uma “adoção de valores e formas de vida condenados pela moralidade vigente”, instaurando consciência lírica céptica que refuta a imortalidade da alma.

Estes dois momentos, quando sobrepostos no terreno da criação poética, correspondem a códigos poéticos próprios. Nesse sentido, quando as poesias visam à transcendência, apresentam metáforas vagas e indefinidas que retratam certa espiritualidade e, quando expressam a vida marginal, observam um código de insatisfação que dialoga com os rumos da cultura, mediante a exploração da vida material e sensível.

Essa desigualdade binômia caracteriza proposta romântica de entender a poesia como tarefa progressiva ou infinita que objetiva a aproximação entre o mundo divino e o mundo terreno, mediada pelo eu artístico, singular e genial. À duplicidade temática, associam-se duas concepções do ideal que singularmente propõem asceses anímicas. Para comprovação dessa tese, Cilaine Alves opta por observar a obra Macário.

Assim, “enquanto Macário reage contra o sentimento de alienação do sujeito e da arte na civilização industrial professando um tipo de poesia que retrate tal descontentamento, Penseroso acredita na possibilidade de atingir um estágio civilizatório ideal com o advento do progresso”. Vale dizer que a autora associa a posição de Macário, descrente em relação à cultura, à própria posição poética de Álvares de Azevedo que busca a plenitude no ideal infinito.

Por outro lado, esta mesma busca será, também, construída pela figuração do amor-paixão. Dessa forma, invariavelmente, Azevedo revitaliza o sentimento em sua essência como idéia e possibilidade de transcendência, de elevação do espírito ao reino do Absoluto. O embate nuclear entre a realidade cotidiana e a idealização do infinito “propicia a adoção do amor irrealizado” onde a donzela virgem e angelical são a personificação desse ideal.

Cilaine Alves infere, contudo, que, à certa altura de Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo introduz um “eu” crítico em sua obra que questiona a validade da postura poética adotada até então. Ou seja, “exausto de perseguir um ideal inapreensível”, concebe o prefácio ao livro citado, transformando-o numa autocrítica que assume um desconforto, ou até, um desapontamento com a “banalização do código poético sentimental”.

Tal ato, que poderia e, seguramente, pôde confundir a recepção que talvez aferisse a partir disso, talvez, um sintoma de esquizofrenia, mostra a autora, ser absolutamente programático dentro do cânone romântico onde a reflexão sobre a obra, amiúde, é inerente ao sistema poético. Pressupõe a arte romântica, pois, uma crítica imanente capaz de propor um crítico que esteja no centro do texto, e não, externo a ele. Dessa forma, “na própria idéia que concebe o artista como mediador entre o finito e o infinito, entre o eterno e o efêmero, encontra-se, paradoxalmente, uma restrição que limita o âmbito da ação do gênio romântico, impedindo que seu livre-arbítrio desemboque na ‘iliberalidade’.”

Cilaine vai além, indica que o procedimento poético-elocutivo que permitirá ao poeta romântico tornar-se o próprio crítico de sua obra, será a ironia que, simultaneamente, é a auto-eliminação da subjetividade, soterrando o sentimentalismo exacerbado e, é, também, a mediadora da anulação da forma poética, explicitando um momento objetivo, ou seja, a ironia da forma, conforme bem expressou Walter Benjamin.

O quarto elemento, levantado n’O Belo e o Disforme revê “o maior caso de byronismo explícito das letras brasileiras”, isto é, dentro do trabalho de processamento e de delimitação do código poético alvaresino, é trabalhada uma acurada análise daquilo que, acertadamente, a crítica tradicional já observara na obra de Álvares de Azevedo: o byronismo. Contudo, jamais de maneira historicizada.

É oferecida, portanto, uma contribuição de inscrição histórica desse “movimento” de letras, socialmente observado. Destaca a importância de certas sociedades e revistas cujo ideário indicava “a adoção da ‘filosofia’ byroniana, do estilo de vida boêmio, além da crítica, através do gênero ‘bestialógico’, aos falsos poetas”.

Esse aspecto do código poético sintetiza a binomia explícita da obra uma vez que o sujeito da enunciação observa “a inapreensibilidade de esferas cósmicas e de que a ciência não é capaz de explicar os mistérios da vida”. Diante da impossibilidade do mundo, revitaliza, pois, certos estereótipos avessos à vida mundana “normal”. A autora prova que a esse procedimento, absolutamente, programático, na obra de Azevedo, corresponde a sublimidade sentimentalmente idealizada da donzela pura, o lírio branco, como contrapartida da binomia que busca o infinito.

Na terceira e última parte do livro, Cilaine Alves opera a estilística alveresina, tanto naquilo que há de dualidade (chamou Álvares de binomia), porquanto é resultado dessa expressão, quanto naquilo que há de fusão desse processo, uma vez que a obra resulta una. O estilo, portanto, encerra um sistema proposto, recuperando em forma poética a binomia estilística e, conseqüentemente, uma fusão de elementos que busca o ideal.

Para assentar a duplicidade imposta pelo conteúdo, o autor d’O conde Lopo propõe, segundo Cilaine, a operação de dois estilos, ora o baixo e vezo que dá conta da bestialidade byrônica, ora o alto e sublime que recupera o conteúdo de sentimentalismo exacerbado.

Assim, “enquanto na fundamentação de um mundo visionário e platônico a imitação remete a esferas elevadas, ideais e inapreensíveis, após essa exposição a representação busca retratar, de forma diametralmente oposta, os elementos sensíveis do cotidiano prosaico, interpretando-os na chave de uma estilística baixa”.

Portanto, aquilo que a crítica observou como imprecisão, altos e baixos, momentos bons e maus representam uma intenção poética subliminar que visa a, “heteronimicamente”, dar conta de várias consciências, e daí, certa infinitude da imensidão cósmica. Segundo a autora, esta postura permite estabelecer a relação entre o pensamento estético de Kant e a sua particular assimilação por parte de Schiller.

Estilisticamente, portanto, Álvares de Azevedo num primeiro momento esforça-se em passar ao largo do mundo sensível, buscando a sublimidade e num segundo, trabalha a representação da natureza sensível e corpórea, incorporando experiências conflituosas do cotidiano (boêmia literária, pobreza material do poeta, anonimato etc.).

O livro O Belo e o Disforme é, sem dúvida, um marco na crítica literária brasileira acerca do romantismo, pois consegue normatizar algo que, para muitos, era inormatizável e, para outros, fruto de mentes doentias, logo próximo da incongruência, da inépcia e da infantilidade: a poesia romântica de Álvares de Azevedo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Assalto Medieval à Loba Capitolina

Texto extraído de La Reppublica, por indicação do Prof. Dr. João Batista Toledo Prado, diretamente da Cidade Eterna





La lupa del Campidoglio è medievalela prova è nel test al carbonio
La scultura era stata variamente attribuita all´arte antica, dagli etruschi ai romani


di Adriano La Regina


Nuove analisi al radiocarbonio eseguite sulla Lupa Capitolina confermano l´attribuzione della scultura all´epoca medievale. Le indagini sono state svolte in uno dei più attrezzati laboratori scientifici italiani per questo genere di attività, il Centro per la datazione e la diagnostica dell´Università del Salento. Accertamenti sulla datazione del celebre bronzo erano stati preannunciati dai responsabili dei Musei Capitolini il 28 febbraio 2007 a Roma, alla Sapienza.

Ma poi non se ne era saputo più nulla. Solamente nell´agosto del 2007 trapelarono le prime notizie sull´effettivo svolgimento delle analisi. Il 31 ottobre, infine, una nota di agenzia fece sapere che le indagini erano state eseguite, ma i risultati non furono divulgati: il Comune di Roma si era riservato il diritto di pubblicarli, ma non lo ha fatto. Le nuove informazioni sull´epoca del bronzo capitolino sono state così sottratte per circa un anno alla conoscenza del pubblico e degli studiosi.

La scultura era stata variamente attribuita all´arte antica: etrusco-italica, magno-greca, romana; secondo l´opinione più diffusa era considerata un oggetto di produzione etrusca dei primi decenni del V secolo avanti Cristo. A riconoscerne la fattura medievale è stata Anna Maria Carruba, la quale per prima aveva accertato che la Lupa era stata fusa a cera persa col metodo diretto in un sol getto, tecnica adottata per i grandi bronzi nel Medio Evo e non in epoca precedente; aveva anche constatato che le superfici della scultura non presentavano i segni caratteristici delle lavorazioni antiche, bensì quelli riscontrabili su tutti i bronzi di epoca medievale. I risultati, insospettati e strabilianti, furono pubblicati dalla Carruba nel dicembre 2006 suscitando attenzione internazionale, specialmente in Germania ove le ricerche sulle antiche tecnologie sono molto avanzate.

In Italia, nel mondo degli studi di storia dell´arte antica, si ebbero reazioni non unanimi con segni di contrarietà tra quegli archeologi del Comune di Roma che avevano sottovalutato e respinto le ripetute segnalazioni di Anna Maria Carruba, impegnata nel restauro della Lupa tra il 1997 e il 2000. Anche contrari sono stati taluni ambienti accademici insofferenti dei successi dovuti alle nuove tecniche di indagine; il lavoro della Carruba ha inoltre infranto definitivamente il vecchio pregiudizio di un rapporto gerarchico tra lo storico che interpreta i fenomeni artistici, e gli altri ricercatori che studiano la materia dell´opera d´arte e le sue trasformazioni.

La Lupa è un´opera d´arte possente, raffinata e complessa. Ha sempre esercitato un fascino particolare, ha evocato miti e leggende. Theodor Mommsen (1845) osservò che il bronzo, da lui considerato genericamente antico, benché horridum et incultum lo commuoveva più delle belle sculture presenti nel museo. L´attribuzione all´arte etrusca risaliva però già al Winckelmann (1764), il quale aveva tratto questa convinzione dalla rappresentazione appiattita dei riccioli e delle ciocche del pelame che in ogni successiva trattazione sarebbero rimasti l´oggetto di raffronto stilistico con altre opere d´arte.

La successiva storia degli studi riguardanti la Lupa è stata offuscata da informazioni erronee, superficiali e fuorvianti su restauri mai eseguiti, come quelli relativi alla coda, oppure su danni subiti, che in realtà sono difetti di fusione. Già nella sua Roma antica Famiano Nardini (1704) attribuiva a un fulmine le lesioni alle zampe, identificando così la scultura con la statua di bronzo dorato, raffigurante Romolo allattato dalla lupa, folgorata nel 65 avanti Cristo sul Campidoglio. Gli aspetti iconografici del bronzo capitolino hanno dimostrato solo generiche analogie con l´arte antica. L´analisi stilistica si è per lo più rivolta all´interpretazione dei caratteri non classici, considerati «italici». Soprattutto nella scuola germanica la critica ha insistito anche per la Lupa nella ricerca strutturale (Strukturforschung), teorizzata negli anni Trenta da Guido Kaschnitz von Weinberg, un eminente storico dell´arte antica. Sulla scia teorica di Kaschnitz sono gli studi sulla Lupa di Friedrich Matz (1951), che vi ha riconosciuto un prodotto dell´arte etrusca. Questa posizione interpretativa è stata ancora ribadita da Erika Simon (1966).

Il primo a dubitare dell´antichità della Lupa è stato Emil Braun (1854), segretario dell´Istituto di corrispondenza archeologica di Roma, il quale riconobbe nei danni alle zampe dell´animale un difetto di fusione e non i guasti prodotti da un fulmine. Successivamente Wilhelm Fröhner (1878), conservatore del Louvre, ravvisò nella scultura caratteri stilistici attribuibili all´epoca carolingia; infine Wilhelm Bode (1885), direttore del Museo di Berlino, fu parimenti dell´avviso che si trattasse con tutta probabilità di un´opera d´arte medievale. Queste rapide osservazioni nel corso del Novecento caddero in totale oblio.

La Lupa capitolina resta un´opera problematica, dovuta a una personalità artistica di cui occorrerà definire la posizione e il ruolo nel contesto della produzione scultorea, e in particolare bronzea, del Medio Evo nell´Italia centrale. I dati finora acquisiti consistono nell´accertamento del luogo di produzione, circoscrivibile in base alle terre di fusione nella vallata del Tevere da Roma a Orvieto (G. Lombardi, 2002); nel riconoscimento di una tecnica di fusione adottata in età medievale, documentata a partire dal XII secolo (Carruba, 2006); in una serie di analisi (radiocarbonio, termoluminescenza) più volte eseguite negli ultimi anni, che concorrono a indicare un´epoca di produzione compresa tra il secolo VIII dopo Cristo e il secolo XIV; le ultime, ripetute una ventina di volte l´anno scorso, offrono un´indicazione molto puntuale nell´ambito del XIII secolo.

L´autore è stato soprintendente ai beni culturali di Roma

(09 luglio 2008)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Novo Busto de Júlio César em Arles, França


Foi encontrado no fundo do rio Ródano nas proximidades da cidade francesa de Arles um busto de Júlio César. Vale dizer que esta é a mais antiga imagem do general romano que se tem notícia e anterior à sua morte. Todos os bustos que tínhamos de César, excetuando à mascára de Turim, eram posteriores ao seu assassinato, feitas a partir de sua máscara mortuária. Segundo a Agência de Notícias de Portugal:
"A descoberta apenas foi anunciada terça-feira mas o busto, em mármore, tinha sido encontrado por um membro da equipa durante uma campanha realizada entre Agosto e princípio de Outubro de 2007 na margem direita do Ródano.
No total, foram retirados do rio cerca de 100 objectos, entre os quais um capitel coríntio em mármore, colunas e estátuas, incluindo a de um Neptuno, do século III d.C. Depois de estudados, deverão ser expostos em Setembro de 2009 no Museu de Arles.
'Todos estes objectos - conta Luc Long - têm uma história diferente.O César é o mais antigo, data da época republicana de Roma e atesta que nesta margem de Arles havia referências ao César vivo que tinha criado a cidade'. O busto, esculpido provavelmente entre 49 e 46 a.C., terá sido lançado ao rio após o assassínio de César, no período agitado que antecedeu a ascensão ao poder do seu filho adotivo, Otávio, primeiro imperador romano."

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sirenes e Sereias

No imaginário contemporâneo, temos as sereias como seres mistos (mulher/peixe), cuja principal característica é a capacidade de encantamento por meio da voz. Assim, no mito, elas assaltavam os navegantes, encantando-os com seu belo canto, faziam-nos bater contra os penhascos nas proximidades da ilha de Capri no Tirreno. Há, porém, que se lembrar de que suas primeiras figurações, longe de indicarem a píscia forma, antes as propõem com forma de pássaro:


Hic tamen indicio poenam linguaque videri
commeruisse potest; vobis, Acheloides, unde
pluma pedesque avium, cum virginis ora geratis?
an quia, cum legeret vernos Proserpina flores,
in comitum numero, doctae Sirenes, eratis?
quam postquam toto frustra quaesistis in orbe,
protinus, et vestram sentirent aequora curam,
posse super fluctus alarum insistere remis
optastis facilesque deos habuistis et artus
vidistis vestros subitis flavescere pennis.
ne tamen ille canor mulcendas natus ad aures
tantaque dos oris linguae deperderet usum,
virginei vultus et vox humana remansit
.
Ovídio - Metamorfoses, V, 551-63


Sirene de Canosa - Museu Arqueológico de Madri

Sirene do Museu Arqueológico Nacional de Atenas


Vaso de Figuras Vermelhas - Com a figuração da Sereia e a tripulação de Ulisses - British Museum - BM440



Sirene - Vaso de figuras negras - Louvre

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Final do Curso: Lendo Imagens

Hoje, dia 4 de julho, teve fim o curso de Pós-graduação em Letras Clássicas na USP: Lendo Imagens. Nos dois últimos encontros, houve duas palestras: a primeira, a cargo de João Angelo Oliva Neto (Professor do Programa) sobre as representações de Priapo; já, a segunda, sobre a ékphrasis e euidentia, sob a responsabilidade de Melina Rodolpho (Pesquisadora do Programa).