domingo, 21 de dezembro de 2008

Os dez + ou - de 2008

Talvez o meu maior defeito seja a impaciência, vislumbrada ou observável principalmente quando sou colocado à prova diante de certas categorizações como: Qual é seu filme ou livro predileto? De zero a dez, qual a nota que você dá para tal espetáculo? Quais são os seus dez restaurantes favoritos? Quem é melhor Machado ou Guimarães? Você acha que Kubrick está entre os grandes cineastas do século XX?

Parece-me que a sistemática e contínua necessidade dos outros - mormente do meu filho de 12 anos - em saber qual é a minha opinião, tira-me o prumo, torna-me avesso à crítica, faz-me perder a razão. Enfim me irrita. Talvez a minha falta de memória, talvez a minha incompetência, talvez o receio de não poder mudar de idéia sejam os responáveis por não querer entrar na onda do top ten.
Nesse fim de ano, entretanto, fiz um balanço do que gostei e não-gostei, peço, apenas, que não me cobrem essas posições depois de amanhã. Vamos lá, Paulinho, vou dar minha lista:


1. Cinema

Sem sombra de dúvidas, a sétima arte nos brindou com uma animação genial: Wall-E é uma pérola. Enredo bem sacado, personagens perfeitamente construídos, quase inexistência de diálogos verbais que cede espaço à ação e à sensibilidade são alguns aspectos que devem ser observados nessa obra fantástica da Pixar, que talvez só possa ter como êmulo a imbatível A Era do Gelo (2002) da Blue Sky, com o seu inesquecível e impecável Scrat, um exemplo de conduta humana, ops...


2. Museu

Quando pensamos num Museu, invariavelmente, pensamos em algo estático e unilateral. Isto é, um espaço de fruição em que nós passivamente somos colocados diante das peças, admiramos os detalhes e guardamos as informações. O acervo, portanto, independe de nós. Somos pólos passivos da arte, da história, enfim, da informação.

O Museu do Futebol, inaugurado no segundo semestre 2008 no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em São Paulo, quebra essa lógica. Lá os espectadores são parte do acervo. Cada um, por e com seus próprios motivos, é contemplado no acervo e dele frui. Os espectadores, assim, deixam de lado a tristeza de uma única possibilidade, a passividade e ativamente também gozam do ludismo das "armadilhas" e das "artemanhas" dessa nova concepção de museológica. Dou dois exemplos:

A sala dos "Anjos Barrocos" solapa a razão. Eleva-nos e nos torna partícipes do mundo sublime e divino de nossos deuses ludopédicos. Esses flutuam num "mar sombrio e etéreo de sombras vivas" lá e em nós; só a eles é dado o direito à luz que, curiosamente, também nos basta. Os seres divinos brilham como brilharam. Como se Píndaro tivesse tradução visual. Afinal, um dia ele disse: "O homem é a sombra de um sonho."

A sala das "Torcidas" é antítese da dos "Anjos". Lá falavam os deuses, cá os homens falam. Naquela a mudez divina, nesta a eloqüência coletiva. Lá o sonho, cá a realidade. O ambiente etéreo cede espaço ao tectônico, pois, efetivamente, nós estamos encurralados entre as fundações do estádio e o avesso das arquibancadas, somos postos à prova das emoções que nós construímos.

3. Retrô


Acho que em 1976, quando tinha apenas 14 anos, fui ao cinema assistir a um filme, que para muitos à época foi considerado medíocre e cuja única qualidade era ser o palco de uma nova técnica fotográfica no cinema - longas cenas à luz de velas - e cujo principal defeito era ser interminável: Barry Lyndon. Já naquela época, eu discordava dessa crítica. Tanto é que assisti ao filme duas vezes seguidas, o que me fez ficar no cinema mais de seis horas. Algo me atraía no filme, porém não sabia dizer o porquê. Nesse ano revi atentamente essa obra de Kubrick e continuo discordando da crítica. O filme rompe com a idéia de gênero épico no cinema pelo simples fato de não ser épico, é histórico é uma "bíos", uma "uita". Sua unidade não está no enredo, está no personagem. Uma recolha de ações que caracterizam a vida de um anti-herói irlandês no final do século XVIII.


4. Televisão


Capitu. Esse é o nome da minisérie exibida pela Globo em dezembro. Sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, a minisérie descortina Dom Casmurro de Machado de Assis. Com uma linguagem diferenciada, mas já conhecida do público, Luiz Fernando traduz a linguagem verbal de Machado em linguagem televisiva com ares de sofisticação massificada, como que um Gerald Thomas global. É uma pena. Machado não carece de explicação, basta lê-lo. A sugestão da língua literária e a produção de seus efeitos de sentido jamais deveriam estar sujeitas a esse tipo de tradução. É melhor para todos: para Machado, para o diretor e, principalmente, para nós. Ao fim e ao cabo, a conclusão a que se chega é: Machado é genial. Que novidade!


5. Restaurante



O Maní na Joaquim Antunes, 210 no Jd. Paulistano em São Paulo é um sonho bom. Sob o comando dos chefs Daniel Redondo e Helena Rizzo é um lugar que deve ser visitado. O ambiente é extremamente agradável, o atendimento é cordial e, principalmente, o cardápio é instigante e saboroso. Vale conferir o Bobó de camarão, montado sobre um o purê de mandioquinha, com cogumelos. Delicado, o prato dá saudades antes de acabar. O cosmopolitan é delicioso e diferente. Os pirulitos de parmezão são inusitados. Os pãezinhos do couvert, chocantes, e as sobremesas, de outro mundo. Para o almoço, vá cedo ou reserve. Lota.


6. Latinhas da Brahma


Sou um bebedor de cerveja. Todos sabem. Não vivo sem. Encantou-me a série "bemorativa" de latinhas da Cervejaria mais famosa do Brasil: A Brahma. Só ontem consegui a última das doze.


7. Boteco

Há anos leio que o Frangó na Freguesia do Ó em São Paulo tem as melhores coxinhas de galinha de São Paulo. Confirmado, não há nada parecido. Afora, a coleção de Cervejas. Sensacional! Há que se dizer que a localização - Largo da Matriz da Nossa Senhora do Ó - faz diferença. Primeiro é completamente fora "do circuito" (Jardins, Moema, V. Madalena, V. Olímpia). Segundo: imprime certo ar reverencial e religioso que combina com o bem beber e o bem comer.
8. Sorvete

Não gosto muito de doces. Não sou fã de chocolate. Sorvetes: até esse ano somente o Häagen-Dazs de Doce de Leite e de Morango. Cedendo a pressões amorosas, experimentei o Stupendo de Eduardo Guedes. Digo hoje: Não vivo sem o sorvete de bem-casado.

9. RC/SPFC/Muricy e SFC

Adoro futebol. E isso sempre mo foi fácil, sou santista. Afinal, não me faltam craques, tampouco glórias para reverenciar e para cultivar na Memória com os auspícios de Mnemosyne - redundância! Mas, muito sofri em 2008! Motivos abumdaram. Um time fraco e que jogou feio são os primeiros da lista interminável de defeitos. Pobre Glorioso Santos!
Agora algo há no ludopédico que não suporto mais: Muricy, associado a Rogério Ceni e a São Paulo Futebol Clube. Que coisa chata! Dor-de-cotovelo? Simmmmmmm! Tenho-a. Talvez já tenha chegado a hora da reviravolta...Esperemos...

10. Programação Esportiva na TV

Os canais ESPN são demais. Um show. Bate-Bola 1 e 2, Sportcenter, É rapidinho e o imperdível Linha de Passe fazem diferença. Todos os dias. Juca, Trajano, Palomino, Calazans, Márcio Guedes, PVC, João Carlos, Mauro Cezar, Calçade, Soninha, Amigão, Antero Greco, entre tantos, tornam certamente nossas vidas mais felizes.

sábado, 13 de dezembro de 2008

London Roman Art Seminar - 2009

12 January
Dr Antony Eastmond (Courtauld Institute)
Consular Diptychs: Paradoxes and Problems

26 January
Dr Caroline Vout (Cambridge)
Sculpture and Epic

9 February
Lisa Shekede (Independent)
A Nabataean Wall Painting at Siq al-Barid, Petra: Context and Conservation

23 February
Jason Mander (Oxford)
The Iconography of the Roman Family: Interpreting Portraits of Children in Funerary Contexts

9 March
Ben Russell (Oxford)
The Good Shepherd Sarcophagus from Salona and the Stone Trade

11 May
Amanda Claridge (Royal Holloway)
Reading Trajan's Column


Dr Peter Stewart
Senior Lecturer in Classical Art and its Heritage
The Courtauld Institute of Art
Somerset House, Strand, London WC2R 0RN
Tel: +44 (0)20 7848 2163

Email: peter.stewart@courtauld.ac.uk
www.courtauld.ac.uk

All seminars held on Mondays at 5.30pm in Seminar Room 1, The Courtauld Institute of Art, Somerset House, Strand, London. For further info contact A.Claridge@rhul.ac.uk or peter.stewart@courtauld.ac.uk

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ovídio – Tristia, 2,515-556 - Uma Tradução

scribere si fas est imitantes turpia mimos, -515
materiae minor est debita poena meae.
an genus hoc scripti faciunt sua pulpita tutum,
quodque licet, mimis scaena licere dedit?
et mea sunt populo saltata poemata saepe,
saepe oculos etiam detinuere tuos. -520
scilicet in domibus vestris ut prisca virorum
artificis fulgent corpora picta manu,
sic quae concubitus varios Venerisque figuras
exprimat, est aliquo parva tabella loco.
utque sedet vultu fassus
[1] Telamonius iram, -525
inque oculis facinus barbara mater habet,
sic madidos siccat digitis Venus uda capillos,
et modo maternis tecta videtur aquis.
bella sonant alii telis instructa cruentis,
parsque tui generis, pars tua facta canunt. -530
invida me spatio natura coercuit arto,
ingenio vires exiguasque dedit.
et tamen ille tuae felix Aeneidos auctor
contulit in Tyrios arma virumque toros,
nec legitur pars ulla magis de corpore toto, -535
quam non legitimo foedere iunctus amor.
Phyllidis hic idem teneraeque Amaryllidis ignes
bucolicis iuvenis luserat ante modis.
nos quoque iam pridem scripto peccavimus isto:
supplicium patitur non nova culpa novum; -540
carminaque edideram, cum te delicta notantem
praeterii totiens rite citatus eques.
ergo quae iuvenis mihi non nocitura putavi
scripta parum prudens, nunc nocuere seni.
sera redundavit veteris vindicta libelli, -545
distat et a meriti tempore poena sui.
ne tamen omne meum credas opus esse remissum,
saepe dedi nostrae grandia vela rati.
sex ego Fastorum scripsi totidemque libellos,
cumque suo finem mense volumen habet, -550
idque tuo nuper scriptum sub nomine, Caesar,
et tibi sacratum sors mea rupit opus;
et dedimus tragicis sceptrum regale tyrannis,
quaeque gravis debet verba cothurnus habet;
dictaque sunt nobis, quamvis manus ultima coeptis -555
defuit, in facies corpora versa novas.


[1] Fassus – fateor. Como partcípio passado do depoente, traduzo ativamente.

Se é direito escrever algo torpe, que imitam os mimos,
pena menor é devida à minha matéria.
Acaso seus tablados tornam este gênero de escrita seguro,
Algo lícito, ou a cena deu aos mimos ser lícito?
Amiúde meus poemas são apresentados ao povo
Amiúde até mesmo têm ocupado os teus próprios olhos.
É lógico, em tua casa, assim como fulgem as antigas imagens
De varões, também há corpos pintados com as mãos do artista,
Assim há também, em algum lugar, um pequeno quadro que
Exprime figuras de Vênus e variadas fodas.
E como Telamônio
[1], indicando ira na face, está pendurado,
E a mãe bárbara reflete crime nos olhos,
Assim Vênus úmida seca com os dedos os cabelos molhados,
E é vista coberta apenas pelas águas maternas.
Outros soam guerras erigidas com dardos cruentos,
Uns cantaram tua estirpe, outros, teus feitos.
A ínvida natureza me refreou com estreito espaço,
Deu exíguas forças a meu engenho.
Contudo, aquele feliz autor de tua Eneida
Reuniu armas e varões em leitos tírios
[2]
Nenhuma parte de todo corpo é mais lida do que
O amor jungido por uma união não legítima.
Aquele mesmo, ainda rapaz, cantara os ardores de Fílis
e da tenra Amarílis, em versos bucólicos.
Nós também já erramos há tempos com este escrito:
Um erro antigo sofre um novo suplício;
Eu publicara carmes, quando, cavaleiro ligeiro
[3], tanta vez,
Passei diante de ti que comentava exatamente os meus delitos.
Logo estes escritos de juventude não julguei, pouco prudente,
Que seriam nocivos, já agora são nocivos ao velho.
A punição do velho livrinho redundou tardia
E a pena dista no tempo de seu mérito.
Não creias, entretanto, que toda minha obra seja frouxa
[4],
Sempre dei grandes velas aos nossos remos.
Já escrevi seis livros e tantos outros de Fastos,
E com o teu mês dou fim ao volume,
E, ainda há pouco, a minha sorte interrompeu esta obra,
Escrita e consagrada a ti, sob teu nome, César;
E dediquei o cetro real ao trágico tirano,
O grave coturno possui as palavras que deve ter;
Cantadas por mim, ainda que a última demão falta à empresa
Em novas faces estão os corpos transformados.

[1] Ájax.
[2] Cartagineses.
[3] Citatus – rápido, ligeiro. Na retórica, vivo.
[4] Remissus – de remittere. Em sentido estilístico: frouxo, doce, mole, suave.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Orientações em Curso

O ano de 2009 promete bons frutos:

Algumas orientações que realizo ou irei realizar:

  1. Melina Rodolpho - "Ékphrasis e Euidentia nas Letras Latinas: doutrina e práxis" - Financiamento CNPq. Dissertação de Mestrado.
  2. Cecília Gonçalves Lopes - "Covenções Literárias nas Elegias de Ovídio" - Financiamento CAPES. Dissertação de Mestrado.
  3. Lya Valéria Grizzo Serignolli - "Imagines Amoris". Iniciação Científica.
  4. Irene Cristina Boschiero - "Imagines poetae". Tese de Doutorado.
  5. Simone Demboski Tonidandel - "A representação feminina e o poder em Roma na Dinastia Júlio- Claudiana". Dissertação de Mestrado.
  6. Denise Ablas - "Aníbal por Tito-Lívio e a batalha de Cannae". Iniciação Científica.