terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Duas Elegias - Duas Traduções - Duas Imagens

Duas Elegias do Segundo Livro de Propércio

Paulo Martins

XII
QVICVMQVE ille fuit, puerum qui pinxit Amorem,
nonne putas miras hunc habuisse manus?
is primum vidit sine sensu vivere amantis,
et levibus curis magna perire bona.
idem non frustra ventosas addidit alas,
fecit et humano corde volare deum:
scilicet alterna quoniam iactamur in unda,
nostraque non ullis permanet aura locis.
et merito hamatis manus est armata sagittis,
et pharetra ex umero Cnosia utroque iacet:
ante ferit quoniam, tuti quam cernimus hostem,
nec quisquam ex illo vulnere sanus abit.
in me tela manent, manet et puerilis imago:
sed certe pennas perdidit ille suas;
evolat heu nostro quoniam de pectore nusquam,
assiduusque meo sanguine bella gerit.
quid tibi iucundum est siccis habitare medullis?
si pudor est, alio traice tela una!
intactos isto satius temptare veneno:
non ego, sed tenuis vapulat umbra mea.
quam si perdideris, quis erit qui talia cantet,
(haec mea Musa levis gloria magna tua est),
qui caput et digitos et lumina nigra puellae,
et canat ut soleant molliter ire pedes?

12
Quem quer que seja que pintou o Amor menino
Não julgas que ele tivesse mãos admiráveis?
Primeiro viu os amantes viver sem juízo
e os grandes bens perecer sem cuidados.
O mesmo não ao acaso adicionou asas ligeiras
e fez o deus voar no coração humano:
É evidente, porque somos lançados em ondas alternadas
e nosso ar não se conserva em lugar algum
e com razão suas mãos são armadas com setas aduncas
e de seu ombro pende aljava de Gnossos:
Porque feriu, antes que seguros julguemos o inimigo,
ninguém se livra desta cicatriz.
Em mim as setas permanecem, permanece a imagem pueril:
mas, certamente, ele perdeu suas asas,
porque, ah!, não voa de meu peito para lugar algum
e assíduo em meu sangue gere guerras.
Por que te é agradável habitar em um coração ressequido?
Se existe a honra, lance em outro tuas setas!
É melhor atingir pessoas sãs com este veneno:
Não sou eu, mas minha tênue sombra está sendo açoitada.
Tanto que se me perderes, quem será que irá cantar tais coisas,
Essa, minha Musa suave, é tua maior glória:
Aquele que cante a cabeça, os dedos, os olhos negros
de menina e como seus pés irão seguir suavemente?


XXXI
QVAERIS, cur veniam tibi tardior? aurea Phoebi
porticus a magno Caesare aperta fuit.
tantam erat in speciem Poenis digesta columnis,
inter quas Danai femina turba senis.

hic equidem Phoebo visus mihi pulchrior ipso
marmoreus tacita carmen hiare lyra;
atque aram circum steterant armenta Myronis,
quattuor artificis, vivida signa, boves.
tum medium claro surgebat marmore templum,
et patria Phoebo carius Ortygia:
in quo Solis erat supra fastigia currus;
et valvae, Libyci nobile dentis opus,
altera deiectos Parnasi vertice Gallos,
altera maerebat funera Tantalidos.
deinde inter matrem deus ipse interque sororem
Pythius in longa carmina veste sonat.


31
Tu me perguntas qual motivo me atrasa? Foi aberta
A porta áurea de Febo pelo grande César.
Todo construído em linha reta com colunas púnicas,
Entre as quais surge feminina turba de Dânao.
Lá Febo marmóreo cantando carme com muda lira
pareceu-me mais belo que o próprio Febo;
E em torno do altar: o rebanho de Míron ergue-se:
Quatro bois - signos vivos do artífice.
Então no meio o templo surge em alvo mármore,
Mais caro a Febo que sua pátria Ortígia.
Acima da cumeeira está o carro do sol
Em suas portas, nobre obra em líbio marfim;
De um lado os galos expulsos do alto do Parnaso,
De outro lamentam os funerais de Tantálida.
E logo entre a sua mãe e sua irmã, o próprio deus

Pítio em longa veste canta carmes.