por Paulo Martins
Hoje pela manhã, Tatiana mostrou-me a regravação feita por Diana Krall (1964) para o CD "Live in Paris" (2002) de uma canção antiga de autoria de Billy Joel (The Piano Man): "Just The Way You Are", lançada no LP "The Stranger" de 1977 e, posteriormente, regravada por Barry White (1944-2003), no LP "The Collection" de 1978, versão com a qual a música ganharia notoriedade no Brasil. Certo é que esses dois grandes compositores e interpretes do R&B das décadas de '70 e '80 pareciam ter dado à composição tudo o que poderia ser dado.
Entretanto, como é de costume, Diana Krall releu com precisão o hit, imprimindo à música novo colorido e sabor sem que as qualidades anteriores fossem obturadas na releitura. A suavidade e beleza natural da interpretação são impecáveis. O piano e o violão são dignos de atenção, afora a voz sensível e plena de calor, sem esquecermos o tênue limite de conversão do R&B no mais puro Jazz.
Contudo o que mais me chamou a atenção, foram os versos "Don't go trying some new fashion//Don't change the color of your hair", cunhados por Joel. Eles, em certa medida, podem ser relacionados a outros dois momentos. Um primeiro mais antigo: Propércio, "elegia 1,2". Um segundo, bem mais recente: a canção de Dorival Caymmi (1914), "Marina" que foi regravada por Gilberto Gil em "Realce" de 1979.
A beleza feminina natural é um lugar-comum bem interessante e recorrente.
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"Just The Way You Are"
Billy Joel
Don't go changing, try and please me
You never let me down before
Don't imagine you're too familiar
And I don't see you anymore
I would not leave you in times of trouble
We never could have come this far
I took the good times, I'll take the bad times
I'll take you just the way you are
Don't go trying some new fashion
Don't change the color of your hair
You always have my unspoken passion
Although I might not seem to care
I don't want clever conversation
I never want to work that hard
I just want someone that I can talk to
I want you just the way you are.
I need to know that you will always be
The same old someone that I knew
What will it take till you believe in me
The way that I believe in you.
I said I love you and that's forever
And this I promise from the heart
I could not love you any better
I love you just the way you are
I don't want clever conversation
I never want to work that hard
I just want someone that I can talk to
I want you just the way you are.
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Marina
Dorival Caymmi
Marina, morena
Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo
Mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina, você já é bonita
Com o que Deus lhe deu
Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outra igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal
Marina, morena
Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo
Mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina, você já é bonita
Com o que Deus lhe deu
Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outra igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal
De mal com você
De mal com você.
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Propércio
I,II
QUID iuvat ornato procedere, vita, capillo
et tenuis Coa veste movere sinus,
aut quid Orontea crines perfundere murra,
teque peregrinis vendere muneribus,
naturaeque decus mercato perdere cultu,
nec sinere in propriis membra nitere bonis?
crede mihi, non ulla tuaest medicina figae sponte sua melius,
surgat et in solis formosior arbutus antris,
et sciat indocilis currere lympha vias.
litora nativis praefulgent picta lapillis,
et volucres nulla dulcius arte canunt.
non sic Leucippis succendit Castora Phoebe,
Pollucem cultu non Helaira soror;
non, Idae et cupido quondam discordia Phoebo,
Eueni patriis filia litoribus;
nec Phrygium falso traxit candore maritum
avecta externis Hippodamia rotis:
sed facies aderat nullis obnoxia gemmis,
qualis Apelleis est color in tabulis.
non illis studium fuco conquirere amantes:
illis ampla satis forma pudicitia.
non ego nunc vereor ne sis tibi vilior istis:
uni si qua placet, culta puella sat est;
cum tibi praesertim Phoebus sua carmina donet
Aoniamque libens Calliopea lyram,
unica nec desit iucundis gratia verbis,
omnia quaeque Venus, quaeque Minerva probat.
his tu semper eris nostrae gratissima vitae,
taedia dum miserae sint tibi luxuriae.
1,2
EM QUE te adianta, minha vida, andar com cabelos ornados
e ondular os trajes transparentes de Cós
ou espargir com mirra de Orontes os cabelos
e gabar-te com produtos estrangeiros
e perder a natural graça com luxo comprado
e não deixar brilhar o corpo com seus próprios encantos?
Crê em mim, tua beleza não carece de nenhum cosmético:
o Amor desnudo não gosta das belezas artificiais.
Olha as cores que a bela terra produz,
como as heras brotam melhor espontaneamente,
como a árvore surge mais formosa em solitários antros
e como a água sabe correr por vias não ensinadas.
Os litorais brilham mais, bordados, com seus próprias conchas
e aves cantam mais docemente sem nenhum aprendizado.
Não foi assim que, a filha de Leucipo, Febe, inflamou a Castor;
nem a irmã dela, Hilaíra, com luxo, a Pólux.
Nem foi assim que outrora a filha de Eveno nas margens de um rio,
seu pai, foi motivo de discórdia para Idas e para Febo apaixonado.
Não com falso candor, Hipódame,levada para longe
por carro estrangeiro, atraiu um esposo frígio:
mas, sua face, não sujeita à gema alguma, o fizera
como a cor está presente nas telas de Apeles.
Aquelas se esforçam em conquistar amantes com o vulgo,
Para elas lhes é suficiente a beleza de elegante pudor.
Agora eu não temo que eu seja para ti mais pobre que esses.
Se uma menina agrada a um único, ela é suficientemente adornada.
Quando Febo a ti concede especialmente seus poemas
e Calíope, com prazer, a lira Aônia e
a única graça não abandonou às tuas agradáveis palavras,
Nem tudo, Vênus ou Minerva aprova.
Com essas qualidades, tu sempre serás a mais grata de minha vida,
até que os luxos deploráveis te sejam enfadonhos.