quinta-feira, 14 de maio de 2009

Maio

Paulo Martins
DLCV /FFLCH/USP


Maio na USP é sempre igual. Certa vez, li o Prof. Gianotti dizer. Pela única vez, tomara, concordarei com ele. Maio é sempre igual. Realmente idêntico. Mas a semelhança é a negatividade. Nada muda para melhor em relação ao professor da USP. Tudo é sempre pior. Pior que a crueldade e essa já ganhara requintes inusitados e hoje sobeja contornos de tortura, transpõe os limites do razoável e da racionalidade. Tão estudada pelo filósofo uspiano.


Maio é mês de greve, é grave. Desesperam-se mães. Pais se incomodam. Maio é mês funcionário público improdutivo, incontrolável e incorrigível. É mês baderneiro, mês baixaria. É mês coisa horrível... Maio é mês reflexão inexorável do mês que sobra no salário. Isso sim é paradoxo. O resto é babaquice.

Maio é mês de fim do contrato do cheque-especial, do aluguel, do reajuste da pensão, da prestação da casa própria, da impossibilidade de sobrevivência digna e justa. Maio é mês de filhos que jamais estudarão onde os pais estudaram e/ou trabalham...na USP, a USP não foi feita para eles – já havia sido escrita a história por Armando Sales de Oliveira, pelos Mesquita e por outros que hoje são os verdadeiros herdeiros da Universidade. Maio é mês de noivas ou de viúvas? Encomendemos caixões ou véus?

Este Maio é ótimo, ao contrário dos outros. Este Maio é bom mês. Mês bom este Maio. Ganhamos nova carreira docente na USP. USP de carreira nova é tudo de bom! Carreira nova à escuridão da tarde triste é boa nova para o Maio de 09. Só para incautos, será? Serão? Carreira nova, nova Carreira discutida de terninho e gravata só pode ser coisa de carreirista ... É carreira, não é? Só pode ser ou é burrice mesmo...

“Calaremos os maioístas”. “Acabaremos com professores improdutivos”. “Vermes incontornáveis”. “Invariavelmente sindicalistas”. “Professores que não desejam ser avaliados: eghgh!” “Esses não servem, esses não são bons!” “Esses não são para a USP, esses são para universidades que atentem ao povão, para USP não!” “Precisam de patrão que lhes controle!” Que lhes ponha o jugo, o cabresto e lhes cale! “Ponha-lhes nos trilhos da seriedade e da produtividade mais que britânica ou franco-germânica!” “Maio é sempre igual”. Singular.

É Maio. Depois do Abril de Eliot...Para mim nem tão cruel assim...Muito pior que Abril é Maio. “Invenção de gente de esquerda” ... “ gentinha...”

Maio sempre igual chegou novamente. E só pioramos aqui na USP, mas seguramente não foi qualidade de ensino e de pesquisa. Certamente não foi o atendimento à comunidade em suas multifacetas foi o que piorou. Não foi o profissional empenhado que mudou, não foram os verdadeiros agentes do nome USP, próximo aos 75 anos, que mudaram...

Il capo mudou e como mudou... E como angariou adeptos às suas paisagens...Diria a bossa-nova: “Inútil paisagem...” Talvez dissessem mais, muito mais... Mas deixemos este Maio em paz!
Maio, o mais cruel dos meses, não germina...

Propércio 2,20

Por que choras mais gravemente que Briseida raptada?
Por que choras, ansiosa, mais tristemente que Andrômaca cativa?
Ou por que, por minha traição atormentas os deuses, tresloucada?
Ou por que te queixas que minha fidelidade assim morreu?
O rouxinol funesto não incomoda tanto -5
Com queixas noturnas entre folhagens atenienses,
Nem Niobe, soberba, chorando junto
A doze túmulos, flui desde o angustiado Sípilo.
Ainda que os braços com nós de bronze me enlacem
Ou teus membros estejam escondidos na morada das Dánae, -10
Eu mesmo por ti, minha vida, romperei cadeias de bronze
E atravessarei o palácio férreo das Dánae.
Acerca de ti, o que é dito a meus ouvidos é dito a ouvidos surdos.
Não duvides tu, nesse momento, de minha gravidade.
Pelos ossos de meu pai e pelos de minha mãe, juro-te. -15
Ah! Se eu minto que as cinzas de ambos me sejam graves!
Eu hei de ficar junto a ti até as últimas trevas, vida:
Uma fidelidade, um dia levará a nós dois.
Quanto a mim, se nem teu nome, nem tua beleza me
Mantivessem, poderia me ter docemente tua escravidão. -20
O curso da lua cheia já foi realizado sete vezes,
Quando todas encruzilhadas falam sobre mim e ti.
Enquanto isso algumas vezes a porta me foi suave,
Algumas vezes houve feitos abundantes de teu leito.
Noite alguma foi comprada por mim com valiosos -25
Presentes. Tudo que havia era grande graça de teu ânimo.
Quando muito te assediavam, tu apenas me assediaste:
Posso eu mesmo esquecer-me de seu sexo?
Então, Erínias trágicas, atacai-me e tu, Éaco, condena-me
Ao inferno em teu juízo. E minha pena seja vaguear -30
Entre as aves de Tício, e, então, eu gira as rochas de Sísifo!
Que tu não me procures com suplicantes bilhetes:
Minha última fidelidade é tal qual a primeira.
Esta é minha norma: como solitário amante,
Nem cedo desisto, tampouco começo com temor. -35