sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Poesia e Eloquência

Muita discussão existe em torno das possíveis relações entre poesia e retórica na Antiguidade Clássica. Há quem julgue que uma e outra arte são inseparáveis, assim as categorias retóricas seriam aplicáveis à poesia e as categorias poéticas, à eloquência. Assim o fez Francis Cairns em Generic composition in greek and latin poetry*, quando, no final dos anos 70, tomando como base elementos característicos dos tratados acerca do discurso epidítico de Menandro, o retor, aplicou tais procedimentos à invenção poética.


Este pequeno trecho de Tácito, em Diálogo dos Oradores, parece-me que esclarece àqueles que são incrédulos à tese da indissociabilidade entre as artes:

"ego vero omnem eloquentiam omnisque eius partis sacras et venerabilis puto, nec solum cothurnum vestrum aut heroici carminis sonum, sed lyricorum quoque iucunditatem et elegorum lascivias et [10.4.5.] iamborum amaritudinem epigrammatum lusus et quamcumque aliam speciem eloquentia habeat, anteponendam [10.5.1] ceteris aliarum artium studiis credo."

"Eu mesmo, na verdade, considero a eloquência toda e todas as suas partes sagradas e dignas de veneração, não apenas o som de vossos coturnos ou de carmes heróicos, mas também encantos de poemas líricos, atrevimentos elegíacos, amargores iâmbicos, gracejos epigramáticos e qualquer que seja o gênero que eloquência possua, eu acredito que ela deva ser anteposta a outras práticas de outras artes."

Tradução de Paulo Martins

*Cairns, Francis. Generic composition in Greek and Roman poetry. rev.ed. . Ann Harbor: Michigan Classical Press. 2007. 336 pages.