sábado, 16 de maio de 2009

Propércio 2,24A e 2,24b

'TV loqueris, cum sis iam noto fabula libro
et tua sit toto Cynthia lecta foro?'
cui non his verbis aspergat tempora sudor?
aut pudor ingenuus, aut reticendus amor
quod si tam facilis spiraret Cynthia nobis,
non ego nequitiae dicerer esse caput,
nec sic per totam infamis traducerer urbem,
urerer et quamvis, nomine verba darem.
quare ne tibi sit mirum me quaerere vilis:
parcius infamant: num tibi causa levis?

****

et modo pavonis caudae flabella superbae
et manibus dura frigus habere pila,
et cupit iratum talos me poscere eburnos,
quaeque nitent Sacra vilia dona Via.
a peream, si me ista movent dispendia, sed me
fallaci dominae iam pudet esse iocum!

2,24b

HOC erat in primis quod me gaudere iubebas?
tam te formosam non pudet esse levem?
una aut altera nox nondum est in amore peracta,
et dicor lecto iam gravis esse tuo.
me modo laudabas et carmina nostra legebas:
ille tuus pennas tam cito vertit amor?
contendat mecum ingenio, contendat et arte,
in primis una discat amare domo:
si libitum tibi erit, Lernaeas pugnet ad hydras
et tibi ab Hesperio mala dracone ferat,
taetra venena libens et naufragus ebibat undas,
et numquam pro te deneget esse miser:
(quos utinam in nobis, vita, experiare labores!)
iam tibi de timidis iste protervus erit,
qui nunc se in tumidum iactando venit honorem:
discidium vobis proximus annus erit.
at me non aetas mutabit tota Sibyllae,
non labor Alcidae, non niger ille dies.
tu mea compones et dices 'Ossa, Properti,
haec tua sunt? eheu tu mihi certus eras,
certus eras eheu, quamvis nec sanguine avito
nobilis et quamvis non ita dives eras.'
nil ego non patiar, numquam me iniuria mutat:
ferre ego formosam nullum onus esse puto.
credo ego non paucos ista periisse figura,
credo ego sed multos non habuisse fidem.
parvo dilexit spatio Minoida Theseus,
Phyllida Demophoon, hospes uterque malus.
iam tibi Iasonia nota est Medea carina
et modo servato sola relicta viro.
dura est quae multis simulatum fingit amorem,
et se plus uni si qua parare potest.
noli nobilibus, noli conferre beatis:
vix venit, extremo qui legat ossa die.
hi tibi nos erimus: sed tu potius precor ut me
demissis plangas pectora nuda comis.


“Tu ias falar, embora já sejas mito pelo noto livro -1
E tua Cíntia sejas lida por todo foro...”
A quem o suor não umedeceria as têmporas com estas palavras?
O homem livre ou o pudor ou amor deve dissimular,
Mas se Cíntia se mostrasse mais suscetível a mim, -5
Eu não seria chamado (ser) o cabeça da devassidão,
E assim não seria ridicularizado, eu infame, por toda urbe,
E embora me ardesse, enganaria com meu renome.
Por isso não tenhas admiração que eu procure os vis [amores]:



*_*_*_*_*_*_*_*_*_*



Infamam mais raramente: Pois te são boa causa? -10
E ela deseja somente leque da soberba cauda de pavão
E ter frio para as mãos com uma dura bola,
E deseja que eu peça, irado, dados de marfim,
E aqueles presentinhos que brilham na Via Sacra.
Ah! Que eu morra se estas despesas me irritam, mas ser -15
O brinquedinho da dona falaz já me envergonha!

2,24B

Era por isto principalmente que ordenavas que eu me alegrasse?
Não envergonha a ti ser tão bela, tão fútil?
Uma ou duas noites, de amor, ainda não foram percorridas
E já sou considerado ser insuportável no teu leito. -20
E somente me louvavas e lias meus poemas:
Aquele teu amor tão cedo deu assas?
Que ele rivalize comigo em engenho ou rivalize em arte,
Principalmente aprenda amar uma única casa:
Se te for aprazível que lute contra as hidras de Lerna -25
E trague as maçãs do dragão Hespério,
E, náufrago, beba ondas e, prazerosamente, venenos terríveis
E nunca, por ti, denegue ser infeliz:
(Oxalá, vida, esses trabalhos em mim experimentes!)
Este petulante já será considerado por ti entre covardes -30
Ele que agora chega jactando-se dessa honra inchada:
O próximo ano te será de separação.
Mas nem todo a era de Sibila, nem o lavor
De Alcides, nem aquele negro dia vai me mudar.
Tu recolherás os meus e dirás: “Esses são -35
os ossos de Propércio?” Ai! Tu me eras fiel
Fiel eras, ai! Embora não fosses nobre
de antigo sangue, embora nem rico fosses.
Tudo sofrerei, jamais me muda a injúria:
Eu julgo que não é um ônus suportar tal beleza. -40
Eu creio que muitos morreram por essa beleza,
Creio, mas muitos não foram fiéis.
Por pouco tempo, Teseu gostou da filha de Minos
E Demofonte, de Fílis, um e outro, maus hóspedes.
Agora Medéia é conhecida por ti na nau de Jasão -45
E, em seguida, foi abandonada só, tendo salvado o varão.
É má aquela que finge o amor dissimulado para muitos
E se uma [mulher] pode se preparar para mais de um [amante].
Não quero ser comparado aos nobres, tampouco aos ricos:
Dificilmente vem alguém que recolha os ossos no último dia. -50
Esse te serei: mas peço que tu possas me sê-lo,
Tendo soltado os cabelos, batas no teu peito nu.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Maio

Paulo Martins
DLCV /FFLCH/USP


Maio na USP é sempre igual. Certa vez, li o Prof. Gianotti dizer. Pela única vez, tomara, concordarei com ele. Maio é sempre igual. Realmente idêntico. Mas a semelhança é a negatividade. Nada muda para melhor em relação ao professor da USP. Tudo é sempre pior. Pior que a crueldade e essa já ganhara requintes inusitados e hoje sobeja contornos de tortura, transpõe os limites do razoável e da racionalidade. Tão estudada pelo filósofo uspiano.


Maio é mês de greve, é grave. Desesperam-se mães. Pais se incomodam. Maio é mês funcionário público improdutivo, incontrolável e incorrigível. É mês baderneiro, mês baixaria. É mês coisa horrível... Maio é mês reflexão inexorável do mês que sobra no salário. Isso sim é paradoxo. O resto é babaquice.

Maio é mês de fim do contrato do cheque-especial, do aluguel, do reajuste da pensão, da prestação da casa própria, da impossibilidade de sobrevivência digna e justa. Maio é mês de filhos que jamais estudarão onde os pais estudaram e/ou trabalham...na USP, a USP não foi feita para eles – já havia sido escrita a história por Armando Sales de Oliveira, pelos Mesquita e por outros que hoje são os verdadeiros herdeiros da Universidade. Maio é mês de noivas ou de viúvas? Encomendemos caixões ou véus?

Este Maio é ótimo, ao contrário dos outros. Este Maio é bom mês. Mês bom este Maio. Ganhamos nova carreira docente na USP. USP de carreira nova é tudo de bom! Carreira nova à escuridão da tarde triste é boa nova para o Maio de 09. Só para incautos, será? Serão? Carreira nova, nova Carreira discutida de terninho e gravata só pode ser coisa de carreirista ... É carreira, não é? Só pode ser ou é burrice mesmo...

“Calaremos os maioístas”. “Acabaremos com professores improdutivos”. “Vermes incontornáveis”. “Invariavelmente sindicalistas”. “Professores que não desejam ser avaliados: eghgh!” “Esses não servem, esses não são bons!” “Esses não são para a USP, esses são para universidades que atentem ao povão, para USP não!” “Precisam de patrão que lhes controle!” Que lhes ponha o jugo, o cabresto e lhes cale! “Ponha-lhes nos trilhos da seriedade e da produtividade mais que britânica ou franco-germânica!” “Maio é sempre igual”. Singular.

É Maio. Depois do Abril de Eliot...Para mim nem tão cruel assim...Muito pior que Abril é Maio. “Invenção de gente de esquerda” ... “ gentinha...”

Maio sempre igual chegou novamente. E só pioramos aqui na USP, mas seguramente não foi qualidade de ensino e de pesquisa. Certamente não foi o atendimento à comunidade em suas multifacetas foi o que piorou. Não foi o profissional empenhado que mudou, não foram os verdadeiros agentes do nome USP, próximo aos 75 anos, que mudaram...

Il capo mudou e como mudou... E como angariou adeptos às suas paisagens...Diria a bossa-nova: “Inútil paisagem...” Talvez dissessem mais, muito mais... Mas deixemos este Maio em paz!
Maio, o mais cruel dos meses, não germina...

Propércio 2,20

Por que choras mais gravemente que Briseida raptada?
Por que choras, ansiosa, mais tristemente que Andrômaca cativa?
Ou por que, por minha traição atormentas os deuses, tresloucada?
Ou por que te queixas que minha fidelidade assim morreu?
O rouxinol funesto não incomoda tanto -5
Com queixas noturnas entre folhagens atenienses,
Nem Niobe, soberba, chorando junto
A doze túmulos, flui desde o angustiado Sípilo.
Ainda que os braços com nós de bronze me enlacem
Ou teus membros estejam escondidos na morada das Dánae, -10
Eu mesmo por ti, minha vida, romperei cadeias de bronze
E atravessarei o palácio férreo das Dánae.
Acerca de ti, o que é dito a meus ouvidos é dito a ouvidos surdos.
Não duvides tu, nesse momento, de minha gravidade.
Pelos ossos de meu pai e pelos de minha mãe, juro-te. -15
Ah! Se eu minto que as cinzas de ambos me sejam graves!
Eu hei de ficar junto a ti até as últimas trevas, vida:
Uma fidelidade, um dia levará a nós dois.
Quanto a mim, se nem teu nome, nem tua beleza me
Mantivessem, poderia me ter docemente tua escravidão. -20
O curso da lua cheia já foi realizado sete vezes,
Quando todas encruzilhadas falam sobre mim e ti.
Enquanto isso algumas vezes a porta me foi suave,
Algumas vezes houve feitos abundantes de teu leito.
Noite alguma foi comprada por mim com valiosos -25
Presentes. Tudo que havia era grande graça de teu ânimo.
Quando muito te assediavam, tu apenas me assediaste:
Posso eu mesmo esquecer-me de seu sexo?
Então, Erínias trágicas, atacai-me e tu, Éaco, condena-me
Ao inferno em teu juízo. E minha pena seja vaguear -30
Entre as aves de Tício, e, então, eu gira as rochas de Sísifo!
Que tu não me procures com suplicantes bilhetes:
Minha última fidelidade é tal qual a primeira.
Esta é minha norma: como solitário amante,
Nem cedo desisto, tampouco começo com temor. -35