No IV Simpósio de Estudos Clássicos da USP - Novas Tendências em Filologia Clássica, entre os dias 8 e 12 de novembro de 2010, proferi uma conferência cujo título era Figurações do Amor na Elegia Erótica Romana, na qual tratava basicamente de dois poemas: o 65 de Catulo e o 2,12 de Propércio. Observei que o poema 65 de Catulo, poema que abre a seção elegíaca de seu livro, aponta para três vertentes temáticas ou tópicas da elegia romana, incipiente ainda à época de Catulo, mas que terá espaço relevante entre as artes poéticas do principado. São eles, os temas: o lamento, o jogo alusivo (mítico e metapoético) e o erótico. Os lugares de Catulo, engenhosamente, são oferecidos ao leitor em "fôrma" epigramática.
Lembremos o texto na tradução de João Angelo:
Embora, ilhado em magoas, uma dor sem fim
me afaste, ó Hórtalo, das virgens doutas
nem bons frutos das Musas possa pensamento
gerar (que já flutua em tantos males
pois uma onda, há pouco manando do abismo
do Oblívio, os alvos pés banhou de
meu irmão, em quem, roubado a meus olhos, na praia
Retéia areias pesam de Tróia, ah!
Nunca mais conversar nem ouvir-te contar-me
teus feitos, nunca mais te ver, irmão
mais amável que a vida, e sempre vou te amar,
meu canto tornar triste por tua morte,
qual canta sob as sombras dos ramos tão densas
– ave - a Daulíade a gemer a ausência
de Ítilo); em tanta dor porém te envio, ó Hórtalo,
estes versos vertidos de Calímaco
por teus ditos, dispersos aos ventos volúveis,
em vão não creres voaram de meu peito,
como a maça – furtivo presente do amante –
que cai do casto colo da menina
esquecida, coitada, do fruto escondido
entre as dobras do manto: vem a mãe,
ela salta e no chão foge o fruto, em sua faceinfeliz um rubor lhe sobe cúmplice.
Esse texto dialoga com um pequeno trecho da elegia 1,3, 19-26 de Propércio:
Antes eu imóvel a observava com olhos fixos,
Como Argo, os chifres ignotos de Io. -20Ora soltava a grinalda de minha fronte,
Ora a colocava em tua cabeça, Cíntia.Ora me divertia compondo teus cabelos soltos,
Ora dava furtivos pomos a tuas mãos cavas
Ou concedia todos os dons ao teu sono ingrato, -25
Dons que, amiúde, deslizavam de teus seios.