quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Conferência Internacional

O Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da Universidade de São Paulo convida a todos para a conferência de David Bouvier, membro do Centre Louis Gernet, Paris dia 01/12/08 às 10:00h, no Prédio de Letras, FFLCH, USP:

"Peut-on traduire une émotion érotique?
L'éxemple de la poésie de Sappho (fr. 31 Voigt)"

Ovídio, Epistulae Ex Ponto 4, 16 - Uma Tradução

Inuide, quid laceras Nasonis carmina rapti?
Non solet ingeniis summa nocere dies
famaque post cineres maior uenit et mihi nomen
tum quoque, cum uiuis adnumerarer, erat,
cumque foret Marsus magnique Rabirius oris
Iliacusque Macer sidereusque Pedo
et qui Iunonem laesisset in Hercule, Carus,
Iunonis si iam non gener ille foret,
quique dedit Latio carmen regale, Seuerus
et cum subtili Priscus uterque Numa,
quique uel inparibus numeris, Montane, uel aequis
sufficis et gemino carmine nomen habes,
et qui Penelopae rescribere iussit Vlixem
errantem saeuo per duo lustra mari,
quique suam Troezena inperfectumque dierum
deseruit celeri morte Sabinus opus,
ingeniique sui dictus cognomine Largus,
Gallica qui Phrygium duxit in arua senem,
quique canit domito Camerinus ab Hectore Troiam,
quique sua nomen Phyllide Tuscus habet,
ueliuolique maris uates, cui credere posses
carmina caeruleos composuisse deos,
quique acies Libycas Romanaque proelia dixit,
et scriptor Marius dexter in omne genus,
Trinacriusque suae Perseidos auctor et auctor
Tantalidae reducis Tyndaridosque Lupus,
et qui Maeoniam Phaeacida uertit, et, une
Pindaricae fidicen, tu quoque, Rufe, lyrae,
Musaque Turrani tragicis innixa coturnis
et tua cum socco Musa, Melisse, leui;
cum Varius Graccusque darent fera dicta tyrannis,
Callimachi Proculus molle teneret iter,
Tityron antiquas Passerque rediret ad herbas
aptaque uenanti Grattius arma daret,
Naidas a satyris caneret Fontanus amatas,
clauderet inparibus uerba Capella modis,
cumque forent alii, quorum mihi cuncta referre
nomina longa mora est, carmina uulgus habet,
essent et iuuenes, quorum quod inedita cura est,
adpellandorum nil mihi iuris adest.
Te tamen in turba non ausim, Cotta, silere,
Pieridum lumen praesidiumque fori,
maternos Cottas cui Messalasque paternos,
Maxime, nobilitas ingeminata dedit.
Dicere si fas est, claro mea nomine Musa
atque inter tantos quae legeretur erat.
Ergo submotum patria proscindere, Liuor,
desine neu cineres sparge, cruente, meos!
Omnia perdidimus, tantummodo uita relicta est,
praebeat ut sensum materiamque mali.

Quid iuuat extinctos ferrum demittere in artus?
Non habet in nobis iam noua plaga locum.

Episatulae Ex Ponto - 4,16 - Tradução: Paulo Martins

Invejoso, por que rasgas os carmes do exilado Ovídio?
O último dia não costuma prejudicar os engenhos
e a fama depois das cinzas vem maior.
Assim também eu tinha um nome,
quando eu era contado entre os vivos.
Quando estavam entre nós, Marso[1]
e o Rabírio[2] grandiloqüente e o troiano Macro[3]
e o celeste Pedão[4] e aquele Caro[5]
que ultrajou Juno em seu Hércules,
como se agora este não fosse genro de Juno.
E aquele Severo[6] que deu ao Lácio um carme real.
E com o preciso Numa[7] e juntamente com cada Prisco[8].
E tu, Montano[9], que te sustentas,
seja nos versos desiguais, seja nos iguais
e tens renome por carme geminado.
E aquele que fez Ulisses, errante no sevo mar
por dois lustros[10], escrever à Penélope.
E aquele Sabino[11] que desertou sua Trezena[12]
à rápida morte, trabalho inacabado de dias.
E Largo[13], reconhecido pela alcunha de seu engenho,
que conduziu o velho frígio[14] na seara gaulesa.
E aquele Camerino[15] que canta Tróia de Heitor contido.
E aquele Tusco[16] que tem o nome de sua Fílis,
poetas do velivolente mar, para quem tu podes acreditar
que os deuses cerúleos compuseram os carmes.
Ele que cantou as armas líbias e as batalhas romanas.
E o escritor Mário[17], destro em qualquer gênero.
E o trinácrio
[18], autor da Perseida
e Lobo[19], autor da volta da Tindárida[20] com o Tantálida[21].
E aquele que traduziu a Feácia meônia

e tu também, Rufo, músico da lira de Píndaro.
E a Musa apoiada nos coturnos trágicos de Turrânio

e tua Musa, Melisso[22], com socos leves.
Enquanto Vário[23] e Graco[24] derem feros ditos aos tiranos;
Próculo[25] tiver suave caminho de Calímaco
e o Pásser[26] retornar a Títiro[27] junto as antigos prados
e Grácio[28] der armas aptas a quem caça;
enquanto Fontano[29] cantar as Ninfas, amadas pelos sátiros;
enquanto Capela[30] mancar as palavras em versos desiguais;
e existirem outros, cujos nomes me são longos
e demorados para referir, o vulgo terá poemas.
E quanto aos jovens, dos quais são inéditos os poemas,
nenhum juízo meu devo dirigir.
Embora não ousarei, em meio a turba,
silenciar-me sobre ti, Cota, lume das piérides
e patrono do fórum, a quem a nobreza geminada
deu precisamente de mãe os Cota e de pai os Messala.
Se fas é dizer, Musa de meu nome preclaro,
entre tantos que houve, ela haverá de ser lida.
Portanto, Inveja, pára de dilacerar o exilado da pátria,

nem, cruenta, esparge minhas cinzas!
Perdi tudo, somente a vida me resta;

que ela me ofereça sensibilidade e matéria do mal.
De que vale enviar o ferro ao extinto corpo?
Agora uma nova ferida não tem lugar em mim.

Notas

[1] Domício Marso, poeta do século de Augusto, conhecido por seus epigramas. Escreveu um epitáfio sobre Tibulo e um poema épico sobre as amazonas.
[2] Poeta contemporâneo de Virgílio. Escreveu uma épica sobre os fados de Marco Antônio.
[3] Emílio Macro, poeta épico latino que escreveu sobre Tróia e que viajou com Ovídio para a Sicília.
[4] Provavelmente, Pedão Albidovano, poeta do século de Augusto, que serviu como soldado com Germânico na Germânia. Escreveu epigramas.
[5] Caro é um poeta da época de Augusto. Amigo de Ovídio que cuidou da educação dos filhos de Germânico, Nero e Druso.
[6] Cornélio Severo, poeta épico que escreveu sobre as guerras na Sicília entre Otávio e Pompeu entre (38-36 a.C.). Ele era membro do grupo de Messala, mencionado por Quintiliano e Sêneca.
[7] Poeta da época de Augusto.
[8] Dois poetas da época de Augusto: um é, provavelmente, Clutório Prisco, que escreveu um lamento sobre a morte de Germânico e o outro é desconhecido.
[9] Júlio Montano é um amigo de Tibério. Sêneca o considera um ótimo poeta.
[10] Lustro é o período de cinco anos.
[11] Poeta épico e elegiac da época de Augusto. Escreveu respostas àlgumas Heroides de Ovídio, um poema sobre o calendário e talvez um Tróia.
[12] Cidade do Peloponeso.
[13] Poeta épico que escreveu sobre as andaças de Antenor (fundador de Pádua), algumas vezes identificado como Valério Largo, acusador de Cornélio Galo.
[14] Antenor.
[15] Poeta épico da época de Augusto.
[16] Poeta da época de Augusto que escreveu Fílis. Cf. Propércio 2,22.
[17] Poeta da época de Augusto.
[18] Da Sicília.
[19] Poeta da época de Augusto que escreveu sobre o retorno de Helena e Menelau.
[20] Helena.
[21] Menelau.
[22] Gaio Melisso, um colaborador de Mecenas, gramático, poeta e bibliotecário. Ele escreveu Trabeatae, comédias romanas de costumes sobre a ordem equestre, desenvolvendo, pois, uma forma augustana da antiga Togatae. Protegido de Mecenas, ele organizou a biblioteca no pórtico de Otávia.
[23] Lúcio Vário Rufo, poeta augustano, reconhecido por suas tragédias e épicas.
[24] Provavelmente Tito Semprônio Graco, escritor de tragédias e descendente do grande Graco.
[25] Poeta augustano erótico que emulava Calímaco.
[26] Poeta augustano.
[27] Pastor símbolo da poesia pastoral.
[28] Poeta da época de Augusto que compôs poema sobre a caça Cinergética e bucólicas.
[29] Poeta bucólico da época de Augusto.
[30] Poeta desconhecido da época de Augusto que escreveu elegias.