domingo, 21 de setembro de 2008

Recusa à épica - Horácio 1,6

Scriberis Vario fortis et hostium
victor Maeonii carminis alite,
quam rem cumque ferox navibus aut equis
miles te duce gessent.


nos, Agrippa, neque haec dicere nec gravem (-5)
Pelidae stomachum cedere nescii
nec cursus duplicis per mare Vlexei

nec saevam Pelopis domum

conamur, tenues grandia, dum pudor
imbellisque lyrae Musa potens vetat (-10)
laudes egregii Caesaris et tuas
culpa deterere ingeni.

quis Martem tunica tectum Adamantina
digne scripserit aut pulvere Troico
nigrum Merionen aut ope Palladis (-15)
Tydiden superis parem?

nos convivia, nos proelia virginum
sectis in iuvenes unguibus acrium
cantamus, vacui, sive quid urimur,

non praeter solitum leves. (-20)


Tradução - Paulo Martins


Tu, forte e vitorioso sobre inimigos,
serás cantado por Vário, ave do canto meônio,
e o que o soldado feroz, tu comandando,
com cavalo ou com navios, tiver gerido.

Eu não ensaio, Agripa, cantar tais temas,
nem a grave cólera de Aquiles que desconhece ceder,
nem, pelos mares, os caminhos do ardiloso Ulisses,
nem a violenta casa de Pélops.

Eu, suave, não ensaio sublimes poemas,
pois reserva e Musa, senhora de minha lira de paz,
vetam desviar louvores a César egrégio e
aos teus feitos, por culpa do meu engenho.

Quem dignamente descreverá Marte coberto
com túnica indomável, ou o negro Meríones
nas areias de Tróia ou o justo
Tidida com ajuda de Palas?

Eu canto os simpósios, eu, os combates
das ferozes virgens com unhas afiadas contra os jovens,
eu canto seja livre do que sou inflamado
seja suave diante do que é habitual.


Notas:
Versos
(2) - Maeonii carminis alite = Ave do canto Meônio - o cisne.
(5) - Nec haec dicere nec grauem - Note-se que o anafórico haec diz respeito a toda estrofe anterior em que o poeta recusa-se a cantar as guerras marítimas e terrestres.
(6 e 7) - Referência à Ilíada e à Odisséia.
(9-12) - A musa e o pudor (reserva) impedem que cante o canto elevado pelo fato de o engenho (ingenium) do poeta não ser afeito a esses temas.