Talvez o meu maior defeito seja a impaciência, vislumbrada ou observável principalmente quando sou colocado à prova diante de certas categorizações como: Qual é seu filme ou livro predileto? De zero a dez, qual a nota que você dá para tal espetáculo? Quais são os seus dez restaurantes favoritos? Quem é melhor Machado ou Guimarães? Você acha que Kubrick está entre os grandes cineastas do século XX?
Parece-me que a sistemática e contínua necessidade dos outros - mormente do meu filho de 12 anos - em saber qual é a minha opinião, tira-me o prumo, torna-me avesso à crítica, faz-me perder a razão. Enfim me irrita. Talvez a minha falta de memória, talvez a minha incompetência, talvez o receio de não poder mudar de idéia sejam os responáveis por não querer entrar na onda do top ten.
Nesse fim de ano, entretanto, fiz um balanço do que gostei e não-gostei, peço, apenas, que não me cobrem essas posições depois de amanhã. Vamos lá, Paulinho, vou dar minha lista:
1. Cinema
Sem sombra de dúvidas, a sétima arte nos brindou com uma animação genial: Wall-E é uma pérola. Enredo bem sacado, personagens perfeitamente construídos, quase inexistência de diálogos verbais que cede espaço à ação e à sensibilidade são alguns aspectos que devem ser observados nessa obra fantástica da Pixar, que talvez só possa ter como êmulo a imbatível A Era do Gelo (2002) da Blue Sky, com o seu inesquecível e impecável Scrat, um exemplo de conduta humana, ops...
2. Museu
Quando pensamos num Museu, invariavelmente, pensamos em algo estático e unilateral. Isto é, um espaço de fruição em que nós passivamente somos colocados diante das peças, admiramos os detalhes e guardamos as informações. O acervo, portanto, independe de nós. Somos pólos passivos da arte, da história, enfim, da informação.
O Museu do Futebol, inaugurado no segundo semestre 2008 no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em São Paulo, quebra essa lógica. Lá os espectadores são parte do acervo. Cada um, por e com seus próprios motivos, é contemplado no acervo e dele frui. Os espectadores, assim, deixam de lado a tristeza de uma única possibilidade, a passividade e ativamente também gozam do ludismo das "armadilhas" e das "artemanhas" dessa nova concepção de museológica. Dou dois exemplos:
A sala dos "Anjos Barrocos" solapa a razão. Eleva-nos e nos torna partícipes do mundo sublime e divino de nossos deuses ludopédicos. Esses flutuam num "mar sombrio e etéreo de sombras vivas" lá e em nós; só a eles é dado o direito à luz que, curiosamente, também nos basta. Os seres divinos brilham como brilharam. Como se Píndaro tivesse tradução visual. Afinal, um dia ele disse: "O homem é a sombra de um sonho."
A sala das "Torcidas" é antítese da dos "Anjos". Lá falavam os deuses, cá os homens falam. Naquela a mudez divina, nesta a eloqüência coletiva. Lá o sonho, cá a realidade. O ambiente etéreo cede espaço ao tectônico, pois, efetivamente, nós estamos encurralados entre as fundações do estádio e o avesso das arquibancadas, somos postos à prova das emoções que nós construímos.
3. Retrô
Acho que em 1976, quando tinha apenas 14 anos, fui ao cinema assistir a um filme, que para muitos à época foi considerado medíocre e cuja única qualidade era ser o palco de uma nova técnica fotográfica no cinema - longas cenas à luz de velas - e cujo principal defeito era ser interminável: Barry Lyndon. Já naquela época, eu discordava dessa crítica. Tanto é que assisti ao filme duas vezes seguidas, o que me fez ficar no cinema mais de seis horas. Algo me atraía no filme, porém não sabia dizer o porquê. Nesse ano revi atentamente essa obra de Kubrick e continuo discordando da crítica. O filme rompe com a idéia de gênero épico no cinema pelo simples fato de não ser épico, é histórico é uma "bíos", uma "uita". Sua unidade não está no enredo, está no personagem. Uma recolha de ações que caracterizam a vida de um anti-herói irlandês no final do século XVIII.
4. Televisão
Capitu. Esse é o nome da minisérie exibida pela Globo em dezembro. Sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, a minisérie descortina Dom Casmurro de Machado de Assis. Com uma linguagem diferenciada, mas já conhecida do público, Luiz Fernando traduz a linguagem verbal de Machado em linguagem televisiva com ares de sofisticação massificada, como que um Gerald Thomas global. É uma pena. Machado não carece de explicação, basta lê-lo. A sugestão da língua literária e a produção de seus efeitos de sentido jamais deveriam estar sujeitas a esse tipo de tradução. É melhor para todos: para Machado, para o diretor e, principalmente, para nós. Ao fim e ao cabo, a conclusão a que se chega é: Machado é genial. Que novidade!
5. Restaurante
O Maní na Joaquim Antunes, 210 no Jd. Paulistano em São Paulo é um sonho bom. Sob o comando dos chefs Daniel Redondo e Helena Rizzo é um lugar que deve ser visitado. O ambiente é extremamente agradável, o atendimento é cordial e, principalmente, o cardápio é instigante e saboroso. Vale conferir o Bobó de camarão, montado sobre um o purê de mandioquinha, com cogumelos. Delicado, o prato dá saudades antes de acabar. O cosmopolitan é delicioso e diferente. Os pirulitos de parmezão são inusitados. Os pãezinhos do couvert, chocantes, e as sobremesas, de outro mundo. Para o almoço, vá cedo ou reserve. Lota.
6. Latinhas da Brahma
Sou um bebedor de cerveja. Todos sabem. Não vivo sem. Encantou-me a série "bemorativa" de latinhas da Cervejaria mais famosa do Brasil: A Brahma. Só ontem consegui a última das doze.
7. Boteco
Há anos leio que o Frangó na Freguesia do Ó em São Paulo tem as melhores coxinhas de galinha de São Paulo. Confirmado, não há nada parecido. Afora, a coleção de Cervejas. Sensacional! Há que se dizer que a localização - Largo da Matriz da Nossa Senhora do Ó - faz diferença. Primeiro é completamente fora "do circuito" (Jardins, Moema, V. Madalena, V. Olímpia). Segundo: imprime certo ar reverencial e religioso que combina com o bem beber e o bem comer.
8. Sorvete
Não gosto muito de doces. Não sou fã de chocolate. Sorvetes: até esse ano somente o Häagen-Dazs de Doce de Leite e de Morango. Cedendo a pressões amorosas, experimentei o Stupendo de Eduardo Guedes. Digo hoje: Não vivo sem o sorvete de bem-casado.
9. RC/SPFC/Muricy e SFC
Adoro futebol. E isso sempre mo foi fácil, sou santista. Afinal, não me faltam craques, tampouco glórias para reverenciar e para cultivar na Memória com os auspícios de Mnemosyne - redundância! Mas, muito sofri em 2008! Motivos abumdaram. Um time fraco e que jogou feio são os primeiros da lista interminável de defeitos. Pobre Glorioso Santos!
Agora algo há no ludopédico que não suporto mais: Muricy, associado a Rogério Ceni e a São Paulo Futebol Clube. Que coisa chata! Dor-de-cotovelo? Simmmmmmm! Tenho-a. Talvez já tenha chegado a hora da reviravolta...Esperemos...
10. Programação Esportiva na TV
Os canais ESPN são demais. Um show. Bate-Bola 1 e 2, Sportcenter, É rapidinho e o imperdível Linha de Passe fazem diferença. Todos os dias. Juca, Trajano, Palomino, Calazans, Márcio Guedes, PVC, João Carlos, Mauro Cezar, Calçade, Soninha, Amigão, Antero Greco, entre tantos, tornam certamente nossas vidas mais felizes.