sexta-feira, 18 de abril de 2008

II Colóquio do Grupo de Pesquisa Estudos sobre o Teatro Antigo

28 a 30 de abril de 2008 - Sala 260 do Prédio de Letras, FFLCH-USP

Home Page: www.classica.org.br/se3/gta

28/04, segunda-feira

[8:30] Ió! Condição feminina, humana e heróica: o itinerário de Io em cena e no
mitologema. - Prof. Dr. José Antonio Alves Torrano (USP)

[10:00] O feminino em Aristófanes: uma ausência em Cavaleiros? - Profa. Dra. Ana
Maria César Pompeu (UFC)

[19:30] Paradigmas do sacrifício humano masculino em Eurípides - Wilson Alves
Ribeiro Junior (doutorando USP)

[21:00] A briga entre Mica e O Parente: uma análise sobre o feminino em As
Tesmoforiantes - Milena de Oliveira Faria (mestranda USP, bolsista CNPq)

29/04, terça-feira

[8:30] Entre monstros e heróis: o lugar do feminino n’ As Traquínias - Prof. Orlando
Luiz de Araujo (UFC, doutorando USP)

[10:00] Heracles e o feminino ameaçado: a tragédia de Mégara e Dejanira - Maria
Cristina R. S. Franciscato (doutora em Letras Clássicas/USP)

[19:30] Cenas de um casamento em Plauto - Profa. Dra. Isabella Tardin Cardoso
(UNICAMP)

[21:00] A cortesã e a sedução: estudo comparativo entre Bacchides 35-108 e
Eunuchus 81-106 - Nahim Santos Carvalho Silva (doutorando USP)

30/04, quarta-feira

[8:30] Duas cenas de travestimento na comédia de Aristófanes - Profa. Dra. Adriane
da Silva Duarte (USP)

[10:00] Sessão de comunicação: o feminino no teatro grego

O mito de Helena - Ana Carolina C. G. Neves (graduação USP, bolsista Fapesp de
Iniciação científica); O Díscolo e o feminino - Helena de Negreiros Spinelli (mestranda
USP, bolsista Fapesp)

[19:30] Sêneca: a construção psicológica das mulheres nos cantos corais de As
Troianas - Profa. Dra. Zélia L. V. de Almeida Cardoso (USP)

[21:00] Helena, Lisístrata e seus homens no cinema pós-guerra - Maria Cecília de
Miranda Nogueira Coelho (doutora em Letras Clássicas/ USP; pesquisadora PUC/SP)

Evento com apoio do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e da
Secretaria Regional SE-3 da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos
Programa do II Colóquio do Grupo de Pesquisa Estudos sobre o
Teatro Antigo: O masculino e o feminino no Teatro Greco-latino

Imitação, emulação e poesia em Racine

Jean Racine


Paulo Martins

É preciso saborear esses frutos amadurecidos ao sol do Grande Século, onde se metamorfosearam em mel os sucos vindos do mais profundo da tradição antiga e da tradição cristã.”
Roger Bastide

Jean Racine (1639-1699), seguramente, é um dos grandes mestres do teatro moderno e, em conjunto com Shakespeare, com Corneille e com Molière, representa até hoje referência obrigatória para aqueles que desejam reconstituir a trajetória das artes dramáticas do ocidente.

Pouco ou quase nada se fala de sua habilidade em reciclar as obras da Antigüidade Clássica greco-latina em prol de uma nova arte dramática que surge a partir do renascimento e que se desenvolve até os dias de hoje. A capacidade de “reciclar” ou, simplesmente, “aludir” não é nova, como podem imaginar alguns que se debruçam, sistematicamente, sobre a tão propalada e reverenciada intertextualidade, pedra de toque da pós-modernidade.

Durante muito tempo, mormente no período romântico, muitos autores foram taxados de pouco originais e, até mesmo, de plagiadores por tomarem motivos das práticas letradas da Antigüidade Clássica e os colocarem a serviço de uma poética inovadora. Tal vitupério, contudo, não possuía e não possui escopo teórico algum, pois o que faziam, ao tratar o manancial poético antigo, nada mais era do que aplicar determinados conceitos retóricos antigos dentro do processo de invenção (inuentio) que, entre outras coisas, previa o reaproveitamento de temas, segundo categorias próprias à paidéia coetânea do produto pretendido.

Não foi de outra forma que críticos românticos do século XIX e XX, observaram, por exemplo, um plágio contumaz de Gregório de Matos em relação à poesia de Gôngora, ou mesmo, exigiam e exigem certa “originalidade” de poetas anteriores ao século XIX. Por sua vez, a crítica francesa romântica - e um exemplo típico é Vacquerie - não poupa Racine e propõe outros âmbitos de desqualificação: “Shakespeare est un chêne,/Racine est un pieu” (Shakespeare é um carvalho /Racine uma estaca).

Essa é também a opinião de Victor Hugo, apesar de elogiar determinados aspectos de Esther e Athalie, é enfático ao lhe recusar talento dramático. Assim, a metáfora apresentada, muito além de minimizar as qualidades de Racine, as desqualifica, propondo-as como rasteiras, limitadas, superficiais, e, fundamentalmente, estéreis, se comparadas às do carvalho Shakespeare que, via de regra, é depositário sistêmico de lugares-comuns desse mesmo manancial da Antigüidade, principalmente, se for aferido o colorido senequiano de suas tragédias e outros aspectos de circunstâncias que cercam os temas de suas obras, inseridas no contexto renascentista.

Assim como a absoluta maioria de autores do século XVII, Racine é tido pelos autores e críticos do XIX como menor, sem importância e inepto se comparado aos mestres clássicos da modernidade, dentre os quais destaca-se o autor de Júlio César. Ou seja, o século XIX leu e lê o século XVII sob a égide da deformidade, do excesso e da corrupção do XVI e, dessa maneira, seria pouco provável que um poeta desse período pudesse erigir algo novo e digno de ser reconhecido, aproveitado, ou mesmo, reaproveitado pelas gerações vindouras no âmbito da invenção poética. Além do mais, os critérios propostos para a exclusão são, absolutamente, inócuos a partir do momento em que balizam-se, romanticamente, na originalidade que Shakespeare teria, e outros como Racine não.

Tais inferências críticas, no entanto, soam hoje absolutamente anacrônicas, porquanto conceitos de originalidade e plágio não faziam parte do programa retórico-poético daqueles que propunham por deleite e utilidade (dulce et utile) a elaboração de textos a que hoje convencionou-se chamar literários. E isto, tanto na Grécia do século V a.C., na Roma do século de Augusto, como na França da corte de Luís XIV.
Luís XIV


Estes períodos, separados por tanto tempo, guardam em si aproximações interessantes no que se refere à produção de textos as quais foram relegadas, ou melhor, esquecidas por insignes mestres. Imitação (mimesis, imitatio), emulação (zélosis, aemulatio), originalidade e plágio são conceitos que devem estar à mão de qualquer um que queira observar a poesia e a prosa anterior ao século do mal.

Racine, desta forma, não pode ser considerado, por exemplo, um pós-moderno avant la lettre, por produzir uma obra calcada em motivos e obras antigas, tampouco não criativo e original; antes deve ser observado como um produtor que sabia que, para realizar um trabalho decoroso (prépon, aptum), deveria observar normas que regiam a construção do textos. Caso não o fizesse, certamente, o seu próprio tempo o enterraria e, nós — cá distantes — não poderíamos saborear seu engenho (ingenium) e arte (ars).

A proximidade endêmica de Racine com a Antigüidade Clássica, por sua vez, pode ser aferida não só pela imitação e emulação propostas em Phèdre, Andromaque, La Thébaïde, Alexandre le Grand, Britannicus, etc., mas também e, mais precisamente, por seus escritos esparsos (Cf. Oeuvres Diverses. Gallimard, La Pléiade. 1952.), onde há cuidadosas e preciosas notas de suas leituras de Homero (A Ilíada e Odisséia); de Píndaro (Olímpicas); de Ésquilo (As Coéferas); de Sófocles (Ájax, Electra, Édipo Rei, Édipo em Colona e As Traquínias); de Eurípides (Medéia, Hipólito, As Bacantes, As Fenícias e Ifigênia em Áulis); de Platão (Banquete, Apologia de Sócrates, Fédon, Fedro, Górgias, República e As Leis); de Menandro; de Aristóteles (A poética e Ética a Nicômaco) e Plutarco. Sem falar, naturalmente, das observações feitas aos autores latinos como Horácio (Odes e Sátiras); Cícero (De Inuentione, De Oratore, Espistolae ad Atticum, Espistolae ad familiares, Tusculanas e De Divinatione) Sêneca (De Clementia, De breuitate uitae), Plínio, o velho (História Natural) e Plínio, o jovem (Cf. Knight, R.C. - Racine et la Grèce. 1974).

Este vasto legado (copia rerum e copia uerborum) erudito não poderia deixar de servir ao seu ofício. Racine é um clássico às últimas conseqüências, visceral, portanto nada lhe seria mais grato do que imitar aquilo que produziram as culturas grega e latina. Assim como foi lícito a Sêneca elaborar sua Medéia, sua Fedra, seu Édipo Rei, após, naturalmente, a manifestação de Eurípides e Sófocles; Racine se viu absolutamente autorizado pela tradição a realizar seu projeto de emulação.

No entanto, para nós, pós-românticos, a palavra imitar traz consigo um sentido pejorativo, afinal quase todos pretendem ser originais e criativos em nossa época, e isto era, sem sombra de dúvidas, um imperativo no século XIX. Contudo, para os antigos, originalidade era uma possibilidade, talvez, apenas divina, a partir do momento que a origem é tudo aquilo que nada há antes. Dessa forma, aos deuses caberia a função original, o princípio, a arché. Tudo o que segue ao princípio passa pela imitação e, nesse sentido, o conceito adquire função propedêutica e didática. Afinal, não há nada mais seguro do que afirmar que qualquer processo educativo observa a imitação. Como propõe Aristóteles na Poética, os homens imitam porque se comprazem em imitar e se deleitam no imitado (Cf. Poética, IV).

Porém, não se pode confundir imitação com cópia servil. O ato de imitar pressupõe um processo cujo fim reside na superação do imitado pelo imitador, a emulação (aemulatio, zélosis). E tal superação depende exclusivamente do engenho (ingenium), conceito que prevê a capacidade inata e adquirida, simultaneamente, que ora pressupõe uma habilidade específica diante do material poético, ora uma habilidade de reconhecer procedimentos técnicos que devem ser utilizados adequada e decorosamente.

Daí, pode-se observar a distinção entre originalidade e novidade. Racine, seguramente, não buscava a originalidade romântica, contudo, pretendia a novidade. Ser inovador representava o ápice de sua função de poeta. E, de fato, o foi. Pois, apropriando-se, por exemplo, de temas clássicos, e até mesmo obras completas como Phèdre, conseguiu adaptá-los ao universo da França da corte de Luís XIV. Observe-se a acertiva de José Eduardo do Prado Kelly (Fedra e Hipólito. Tragédias de Eurípides, Sêneca e Racine. 1985): “Ao censurarem o poeta de haver pintado com antigos nomes cortesãos do Rei-Sol, o crítico o justifica pela reflexão de que todo teatro representa os costumes contemporâneos e pela observação de que a Corte era o lugar onde a arte de conviver se reduziu a ‘máximas’ e se erigiu em preceitos. O mérito de Racine terá sido impor aos seus dramas “les bienséances de la société (as conveniências da sociedade).”

Hipólito de Racine

A novidade em Racine, assim, indica a figuração de elementos antigos, observados à luz da retórica (sem limitações impostas pelo romantismo no qual há a subjetivação da elocução, e, por conseqüência, seu uso implica um matiz limitado e pejorativo da arte do bem falar e do bem escrever), associados aos costumes de época. Philip Butler (Classicisme et Barroque dans l’oeuvre de Racine. 1959) afirma, ainda, que na obra de Racine a retórica ocupa lugar de destaque e assume o papel particular de estilização no qual os discursos das personagens relacionam palavras e atos.

Dessa maneira, este estilo inovador visa a traduzir a face inteligível dos movimentos de anímicos dispostos no texto e, jamais, apenas, a apresentar uma foto, estática e instantânea da realidade observável. Esta característica, sem dúvida, vai de encontro à presunção de existência de uma sociedade barroca que está sujeita e submetida ao simulacro, à aparência e ao protocolo (Cf. Gracián, Baltazar - Oráculo Manual ou El Discreto) . O autor faz valer uma necessidade de época, temporal e datada pela qual as figurações deveriam seguir regras ditadas. Uma etiqueta estilisticamente esculpida que deveria permear a vida cortesã e sua inevitável alegoria, o texto produzido.

Roger Bastide, precisamente, estabelece a síntese quando diz que Racine deve ser saboreado, tendo em vista a observação de duas tradições complementares: a clássica e a cristã. Isto é, se por um lado o autor é movido pelos temas clássicos, por outro, eles estão a serviço de um mundo contra-reformista. Dessa forma, no esteio de Maravall ( A cultura do Barroco. 1998), o texto de Racine, assim como de Quevedo, pode servir para a compreensão de uma época, contudo, sem jamais deixar-se de lado “os fatores estilísticos e ideológicos enraizados no solo de uma dada situação histórica”.

Mais do que outros em seu tempo na França, Racine deixa de lado as regras aristotélicas da composição dramática e interessa-se apenas por uma teoria da mesma que visasse à emoção. Assim, figura o espetáculo poético da fragilidade humana. O homem desenhado pelo poeta “é um indivíduo em luta, com toda a comitiva de males que à luta acompanha, com possíveis proveitos que a dor traz consigo, mais ou menos ocultos. Em primeiro lugar, encontra-se o indivíduo em combate interno consigo mesmo, fonte de tantas inquietações, cuidados e até violências que do seu interior brotam e se projetam em suas relações com o mundo e com os demais homens.” (Maravall, J.A.- op.cit.).

Na verdade, esta observação da emoção como ponto central da composição significa que, entre as duas possibilidades de argumentação do discurso, ou seja, a ética (éthos) e a patética (páthos), o autor de Bérénice opta pela segunda. Isto é, tudo em Racine é mediado pelo páthos, daí o excesso de hipérboles, de acumulações e gradações no desenho dos caracteres dramáticos. Daí, o excesso dito barroco. Mesmo naquilo que é tido como uma possibilidade de época, característico do estilo, ele segue algo que não é de seu tempo na origem, e sim algo explícito por uma preceptiva retórica, fundamentalmente, aristotélica. (Cf. Retórica, II).

Racine, portanto, a partir das disputas simétricas entre Orestes e Pirro, os discursos fluviais de Agripina, as súplicas apaixonadas de Burrhus e as acusações de Ulisses, além de representar uma tradição clássica que, aparentemente, definhará nos estertores do século XVIII, contribui como êmulo, apropriando-se de desenhos antigos para retratar a alma do homem de seu século e uma cultura francesa do XVII.

domingo, 13 de abril de 2008

Descoberta nova estátua equestre de mármore em Roma


Confira parte da reportagem da RAI:


Italy: Ancient statue discovered in Rome

Rome, 9 April (AKI) - A fragment of an ancient Roman equestrian statue that once adorned the Colosseum has been found during excavations near the world famous Italian landmark.According to the Italian daily, Il Messaggero, the fragment was discovered among the remains of an ancient pavement that once surrounded the amphitheatre."A marble fragment measuring one metre by a metre and a half, is from an equestrian statue, probably a statue that embellished the arches of the Colosseum," said archaeologist Silvana Rizzo, advisor to the minister of culture and tourism, Francesco Rutelli. "The left flank of a rider with the detail of a leg, bridle and harness of a horse, as well as a part of a dagger scabbard are perfectly visible from the fragment," said Rizzo, who has spent his life doing Roman excavations."They are details that suggest the statue of an emperor and left us with the hope that we could find the entire statue."According to Il Messaggero, the archeological find is a reminder of how many pieces of ancient sculpture are discovered on a regular basis in the Italian capital when centimetres of soil are swept away.Angelo Bottini, Rome's archeological superintendent, called the discovery of the equestrian statue "an exceptional discovery"."What's clear is this new discovery is the umpteenth demonstration of the underground surprises in Rome that are a gift to us," Bottini told the Italian daily.The new discovery could shed light on the statues that once adorned the exterior wall of the Colosseum. The Colosseum, also known as the Flavian Amphitheatre, was constructed by the Emperor Vespasian in 72 A.D. and inaugurated by his son Titus in 80 A.D. It was the largest amphitheatre ever built in the Roman Empire and considered one of the greatest examples of Roman architecture and engineering. But it has suffered extensive damage over the centuries due to earthquakes and pillaging.The arches on the third floor of the Colosseum were decorated by three eagles, signs of power in Rome, while the second floor had statues of ancient gods, Hercules, Apollo and Aesculapius.Experts believe the uncovered equestrian fragment could have been part of a statue above the Imperial entrance to the amphitheatre.More archaeological discoveries are expected to be uncovered as the city proceeds with construction of its third subway line near the Roman Forum, in the heart of the Italian capital.Construction on the 30-station line has already been interrupted several times as archeologists have uncovered ancient and mediaeval treasures.Under Italy's strict conservation laws, the city must decide whether any historic objects are removed or preserved.The 4.6 billion dollar subway line is expected to be completed in 2015.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ciclo de Poesia Helenística - USP

A Alexander S. Onassis Public Benefit Foundation

promove o


Ciclo de Poesia Helenística na USP



Prof. Alexander Sens
Georgetown University, E.E.U.U.

22/04/08, 10: 00 horas - O epigrama helenístico e memória literária

23/04/08, 19:30 horas - "Poesia encantadora?" A Alexandra de Licofronte e os épicos homéricos

24/04/08, 10:00 horas - Asclepíades de Samos e a sua poesia


* As conferências serão proferidas em português



LOCAL: Sala 8 do Dept. de Ciências Políticas, Prédio de Filosofia e Ciências Sociais,
Av. Professor Luciano Gualberto, 315 Cidade Universitária 05508-900 - São Paulo - SP

APOIO: Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da USP, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas,Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um Iambo de Horácio - Uma Tradução

Os Epodos de Horácio são poemas que podem ser considerados como a contrapartida das Odes. Isto é, enquanto estas ocupam o lugar do elogio, via de regra, operando subgêneros líricos como o epinício, o encômio, o hino; aqueles operam unicamente o vitupério, provocando a invectiva contumaz e feroz e emulando com os poetas líricos gregos arcaicos como Arquíloco de Paros e Hiponax.
Pode-se dizer, então, que sob o aspecto das poéticas antigas, poesia iâmbica (o iambo é o metro utilizado nos epodos e nos poemas de invectiva de modo geral) e poesia lírica (em seu sentido mais amplo) estabelecem uma estreita relação com o discurso oratório demonstrativo ou epidítico pelo simples motivo de se aparelharem dos memos lugares, ou seja, qualificativos positiva e negativamente utilizados no âmbito das coisas externas (ascendência, educação, amizades, riqueza, cidadnia, poder, glória); do ânimo (prudência, justiça, coragem, modéstia) e do âmbito do corpo (rapidez, força, beleza e saúde). Cf. Retórica a Herênio, III, 10-11 e Aristóteles - Retórica, I, 9.
Assim enquanto nas odes, Horácio salienta virtudes ligadas a esses lugares; nos iambos dos epodos, ele visa aos vícios concenentes a eles.
Vejamos um exemplo dessa poesia de gênero baixo:

Epodo VIII

Rogare longo putidam te saeculo,
uires quid eneruet meas,
cum sit tibi dens ater et rugis uetus
frontem senectus exaret
hietque turpis inter aridas natis
podex uelut crudae bouis?
Sed incitat me pectus et mammae putres,
Equina quales ubera,
uenterque mollis et femur tumentibus
exile suris additum.
Esto beata, funus atque imagines
ducant triumphales tuum
Nec sit marita quae rotundioribus
onusta bacis ambulet.
Quid? Quod libelli Stoici inter Sericos
iacere puluillos amant:
inlitterati num minus nerui rigent
minusue languet fascinum?
Quod ut superbo prouoces ab inguine,
ore adlaborandum est tibi.



Tradução de Paulo Martins:

Epodo 8

Tu perguntas, fétida, tanto tempo,
O que esgota meu ânimo,
Quando tu tens dentes podres e velha
Ruga sulca senil tua fronte
E torpe está escancarado teu cu entre
Bunda murcha qual a de encruada vaca.
Mas teu peito e tetas flácidas quais
Úberes de égua e tua lassa pança e
Tuas coxas mirradas somadas
A inchadas suras instigam-me.
Sê rica em breve e comandem imagens
Triunfais teu funeral
E não seja uma esposa que passeia,
Montada com as mais rotundas perlas.
Por quê? Que livros estóicos amam descansar
Por entre almofadas de Seres:
Acaso, minha pica iletrada está menos rija
Ou meu pau está menos desfalecido?
Para que tu provoques algo a partir da minha soberba
Virilha, com tua boca tu deves trabalhar.