Os Epodos de Horácio são poemas que podem ser considerados como a contrapartida das Odes. Isto é, enquanto estas ocupam o lugar do elogio, via de regra, operando subgêneros líricos como o epinício, o encômio, o hino; aqueles operam unicamente o vitupério, provocando a invectiva contumaz e feroz e emulando com os poetas líricos gregos arcaicos como Arquíloco de Paros e Hiponax.
Pode-se dizer, então, que sob o aspecto das poéticas antigas, poesia iâmbica (o iambo é o metro utilizado nos epodos e nos poemas de invectiva de modo geral) e poesia lírica (em seu sentido mais amplo) estabelecem uma estreita relação com o discurso oratório demonstrativo ou epidítico pelo simples motivo de se aparelharem dos memos lugares, ou seja, qualificativos positiva e negativamente utilizados no âmbito das coisas externas (ascendência, educação, amizades, riqueza, cidadnia, poder, glória); do ânimo (prudência, justiça, coragem, modéstia) e do âmbito do corpo (rapidez, força, beleza e saúde). Cf. Retórica a Herênio, III, 10-11 e Aristóteles - Retórica, I, 9.
Assim enquanto nas odes, Horácio salienta virtudes ligadas a esses lugares; nos iambos dos epodos, ele visa aos vícios concenentes a eles.
Vejamos um exemplo dessa poesia de gênero baixo:
Epodo VIII
Rogare longo putidam te saeculo,
uires quid eneruet meas,
cum sit tibi dens ater et rugis uetus
frontem senectus exaret
hietque turpis inter aridas natis
podex uelut crudae bouis?
Sed incitat me pectus et mammae putres,
Equina quales ubera,
uenterque mollis et femur tumentibus
exile suris additum.
Esto beata, funus atque imagines
ducant triumphales tuum
Nec sit marita quae rotundioribus
onusta bacis ambulet.
Quid? Quod libelli Stoici inter Sericos
iacere puluillos amant:
inlitterati num minus nerui rigent
minusue languet fascinum?
Quod ut superbo prouoces ab inguine,
ore adlaborandum est tibi.
Tradução de Paulo Martins:
Epodo 8
Tu perguntas, fétida, tanto tempo,
O que esgota meu ânimo,
Quando tu tens dentes podres e velha
Ruga sulca senil tua fronte
E torpe está escancarado teu cu entre
Bunda murcha qual a de encruada vaca.
Mas teu peito e tetas flácidas quais
Úberes de égua e tua lassa pança e
Tuas coxas mirradas somadas
A inchadas suras instigam-me.
Sê rica em breve e comandem imagens
Triunfais teu funeral
E não seja uma esposa que passeia,
Montada com as mais rotundas perlas.
Por quê? Que livros estóicos amam descansar
Por entre almofadas de Seres:
Acaso, minha pica iletrada está menos rija
Ou meu pau está menos desfalecido?
Para que tu provoques algo a partir da minha soberba
Virilha, com tua boca tu deves trabalhar.
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